segunda-feira, 15 de junho de 2015

Algum tipo de poder... (revisão)





Fiquei feliz em encontrar esse meu antigo conto, uma história muito divertida sobre um novo tipo de poder! Criei esse texto por causa da minha incrível e real habilidade de dar pau em tudo que é eletrônico. Seria uma história verídica? Sei que gostei muito de ter escrito e mais ainda de ter relido, espero que apreciem tanto quanto eu:



Algum tipo de poder...




Estava à toa na vida, pensando em algo de bom para fazer. E isso, para mim, naqueles dias, era uma coisa bem complicada. Estava desempregado, quase sem grana nenhuma e beirando a fome. Eu bem que queria estar trabalhando, construindo, ajudando alguém e até mesmo me divertindo com amigos. Mas eu estava tão 'deprê' que não animava fazer mais nada. E não me restando coisa nenhuma, fui fazer o que todo cidadão desempregado infeliz comum gosta de fazer numa noite chata: assistir TV.

Estava tranquilo esperando minha TV abrir a imagem – ela era tão velha que eu tinha que esperar de vinte a quarenta minutos para que ela funcionasse normalmente – para poder ver o programa, que até então, eu estava só ouvindo. Um lixo de programa, é claro. O quê mais um ser humano comum pode esperar dos programas televisivos de hoje? Ainda mais TV aberta. 

Enquanto esperava, pensei em comer alguma coisa. Olhei a geladeira e encontrei ali: um vidro de groselha, duas garrafas de água, uma caixa de ovos com dois dentro, um pote de manteiga pela metade, meio pacote de pão e um pedaço de queijo duro e embolorado. Não tive dúvidas. Levei para cozinha o que eu iria comer. 

Primeiro limpei o queijo, tomando cuidado para não tirar demais as partes estragadas e não sobrar nada; depois peguei duas fatias de pão, adicionei fatias finíssimas de queijo e coloquei-o no micro-ondas para derreter – e matar o que sobrasse de germes daquele alimento. Programei trinta segundos e quando estava faltando quinze, o aparelho desligou. Apagou. Verifiquei a tomada, depois os botões, depois o fusível e por último os disjuntores. Nada. Provavelmente queimado. Bom, não me importei com isso e tirei meu pão lá de dentro, que já estava suficientemente aquecido.

Sentei-me na cama, de frente para a televisão, e comecei a devorar meu pão com queijo. No meio da terceira mordida a TV que já estava quase se abrindo apagou. Gritei furioso e de boca cheia: “Maldição!!!”. Porém, antes de me levantar e procurar o defeito da porcaria da TV, terminei de comer o pão com muito desgosto. 

Levei o prato para a cozinha e assim que acendi a luz, daquele aposento escuro, ouvi um estalo e vi um flash. A lâmpada havia se queimado. Voltei para o quarto e procurei o defeito da televisão. Cocei a cabeça, desconcertado, e comecei a juntar os fatos. Alguns meses antes, quando estava para ser mandado embora e precisava já de dinheiro, havia ocorrido algo semelhante. Matutei, matutei e por fim percebi que alguma coisa estava acontecendo. 

Sentei-me na mesa da sala e liguei meu velho computador. Ligou da forma correta – o que quer dizer que demorou muito. Iniciou-se e estava eu lá, a digitar, quando ele começou a travar. “Tudo bem”, pensei, “computador velho é assim mesmo”. Esperei um pouco, pacientemente, aguardando que ele voltasse e eu pudesse salvar o que já tinha escrito. Passou alguns minutos e ele voltou. Dirigi a seta do mouse até o 'salvar' e antes do clique, a porcaria toda desligou-se. Apertei o power novamente. Ouvi um barulho e um estalo e nada. Angustiei-me. O que era aquilo?

Voltei para o quarto deitei-me. Joguei os chinelos de lado e me cobri com um lençol. Não se passaram dois minutos e a luz da casa sumiu. Levantei mais mal humorado do que de costume. Tropiquei até chegar na cozinha, procurei uma caixa de fósforos e risquei um. Fui riscando um atrás do outro até encontrar uma vela. Acendi a maldita vela e ainda me queimei com a cera. Fui até o painel de força, liguei e religuei tudo e nada. Só podiam ter cortado minha luz. O que seria normal para aqueles tempos de recessão.

Voltei para cama e desisti da vida. Estava quase pegando no sono quando uma ideia surgiu de repente. Num pulo estava de pé. Peguei a vela e procurei na gaveta perto da escrivaninha uma coisa. Depois de revirar todas as gavetas, na última, eu encontrei a lanterna. Essa eu havia comprado no mês anterior com meu último dinheiro do seguro. Estava novinha em folha e até pilhas novas eu possuía. Era o teste final. Coloquei as pilhas recém tiradas da embalagem dentro da lanterna e liguei-a. Aquele clarão iluminou muito bem tudo o que eu apontava. 

Deitei segurando a lanterna apontada para o teto. Fiquei ali um tempo e, antes que minhas suspeitas fossem por água abaixo, a lanterna tremeluziu seu facho e apagou. “Perfeito!” exclamei exaltado. Vesti minhas calças e minha blusa, calcei os sapatos e fui para rua. Atravessei a rua correndo e fui para o banco perto de casa. Tirei meu cartão – que eu sabia que estava zerado – e introduzi no caixa eletrônico. Comecei a fuçar nas opções esperando aquilo acontecer e, antes de receber o aviso de 'saldo insuficiente', o caixa apagou. “Maravilha!” comemorei em voz alta.

Saí do banco renovado, disposto a aprender mais sobre aquilo. Sempre li histórias em quadrinhos na minha adolescência, mas nunca pensei que seria desse jeito. Eu realmente possuía algum tipo de poder, era um fato e eu iria provar para mim mesmo que o tinha. E estava pronto para testá-lo mais vezes...

Quando era criança, imaginava-me podendo voar, carregar coisas pesadas, ricochetear balas, atravessar paredes com os punhos, dissolver coisas com o pensamento... tudo, menos que meu poder seria o de estragar qualquer coisa elétrica e eletrônica. No caminho por onde estava andando, havia estacionado um carro com o alarme disparado e tocando irritantemente. Nem pensei duas vezes. Encostei no teto do carro e esperei a mágica acontecer. Acho que devido a minha empolgação o efeito veio mais rápido. O veículo calou-se de imediato. Começava a entender o meu dom, mas ainda assim, pensava se não seria somente uma coincidência. Nada melhor do que continuar testando. 

Olhei à minha volta e avistei um orelhão. Retirei o fone do gancho e verbalizei: “estrague”, e a porcaria ficou muda no mesmo instante. Estava irradiante. Contente de possuir 'poderes', mas depois de vários testes – todos eles muito bem executados – percebi que eu não possuía uma finalidade. “Pra que serve essa merda?” 

Continuei caminhando pela rua e a medida que andava eu apontava para os postes de luz e dizia “apague” e ele se apagava. Fazia isso agora só por diversão. Não precisava mais tocar. Apenas apontar ou dizer. O efeito já era imediato. Enquanto me divertia, ficava tentando imaginar formas de sair da merda financeira. Precisava ganhar alguma coisa com isso. E nesse exibicionismo todo, fui deixando um rastro de destruição por onde passava. 

Quando olhei para trás, do alto da avenida que eu acabara de percorrer, vi o que eu tinha feito. Tudo apagado, estragado, destruído. E vendo aquela cena, parei, sentei e pensei: “grandes poderes trazem grandes responsabilidades”. Jargão a parte, eu percebi o quê tinha em minhas mãos. Aquela dádiva. Aquele estranho poder. 

Fiquei ali, sentado, por um bom tempo, refletindo, tentando descobrir o que fazer com aquilo. Venderia meus serviços? Quem iria querer alguém para destruir algo – algumas pessoas me passaram pela cabeça. Pensei até numa roupa bacana para usar - nada de roupas colantes - quando estivesse em ação. “Ação?” repeti a palavra. Não sabia ao certo o que eu queria ou o que estava planejando. Só sei que, assim como meus poderes, uma ideia surgiu do nada. 

Levantei, bati a mão nas calças limpando-me e olhei para cima, admirando aquele céu estrelado. E foi ali que eu percebi o que faria. Usaria aquele poder para fazer algo de útil. Algo que, agora, eu poderia fazer. Não seria mais um inútil. Todos iriam saber sobre mim e conheceriam meus talentos. Promoveria para os habitantes do planeta o que eu melhor saberia fazer: instauraria o caos!!!

Continua... 


 
Publicado originalmente no dia 17 de fevereiro de 2011, quinta-feira.





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