terça-feira, 16 de junho de 2015

A Lenda...




Eis aqui mais um dos meus textos já postados, esse, diferente do restante, chega a quase ser uma fábula. Fiz algumas modificações nele para prestar uma espécie de homenagem à minha amada mulher, espero que ela compreenda meu intuito!

Esse era um conto em forma de folclore, não do nosso país, claro, pois aqui não existem dragões, só daqueles do tipo: esforçados que singram pela arte atrás de estabelecerem-se em todas as possíveis lendas um dia contadas por nosso povo...




 

A Lenda...



Existe uma lenda, que diz que um admirável e exuberante dragão, desceu dos longínquos céus para poder amar plenamente o ser que ele mais admirava em nobreza e em beldade, uma perfeita ave. 

O dragão amava o jeito singelo daquela ave voar, batendo suas assas para forçar a sua subida e planando suavemente para descer. Ficava curioso acerca de suas penas, todas pomposamente sobrepostas de forma a fecharem-se igualmente por todo seu corpo formoso. 

Ele via a aerodinâmica daquele lindo espécime e estudava-o da ponta de seu fino bico até o desenho simétrico da cauda... Vê-la rasgar o vento num voo rasante era indizível... e ele ficava lá do alto, admirando-a.
 
A ave não conhecia o que existia acima das nuvens, muito além de todas elas, não sabia que o voo podia se estender a tanto. Ela não tinha o costume de olhar para o alto, pois já se sentia sempre no topo enquanto voava despreocupadamente. Então, sequer viu quando as nuvens se abriram e o imenso ser mítico aproximou-se pela primeira vez...

O voo do dragão, ao contrário do que todos pensam, assemelha-se a um leve ondular que ele realiza com o seu corpo, pois esse ser milenar não possuía asas e sim um poder inimaginável que lhe dava essa condição. E, assim sendo, ele ondulou pelo espaço até alcançar os ventos e postar-se alguns metros acima do voo daquela linda ave.

- És a mais bela de todas de tua espécie, encantas-me tu com teus perfeitos movimentos e tua magistral sabedoria...

A ave espantou-se e rodopiou pelo ar, pois a voz do dragão parecia o rugir de cem feras e suas palavras ecoaram pelos sete ventos como imensos trovões! 

- Como podes afirmar o que não sabes, ó, ser imenso! O que és tu? - ponderou a singela ave que não pôde parar de bater as asas para responder ao incólume dragão.

- Aqui, pouse em minha cauda, ó, rainha dos ares, para que possamos conversar! - afirmou estrondosamente o ser magistral. Este articulava-se sem dificuldades em meio ao nada e estendeu sua parte inferior para servir de ninho para a ave.

Ela assim o fez e pousou na enorme cauda estendida e imóvel, suas penas esvoaçavam lindamente com o agitar dos ventos daquela altura. Eles se olharam. Os olhos daquela ave eram estreitos e vorazes, perfeitamente mortais. Os dele eram gigantescos espelhos das eras, seu olhar era brilhante e musical.

- Sou um dragão, e quero tomar-lhe como companheira, ó, rainha dos ares. - sussurrou o monstro para não ser deseducado, mas mesmo assim sua voz ressoava como uma floresta sendo devastada.

- Acho graça de tuas palavras, ó, titã, mas não há possibilidades de sermos compatíveis.

- O que é mais compatível a nós do que todo o espaço a nossa volta? És bela e tua plumagem me encanta. Não são repugnantes como minhas escamas e esse grossos pelos que saem de minhas ventas...

A ave sorriu com os olhos e ouriçou suas penas no gélido vento. O dragão chiou profundamente, como a liberar um grande estoque de ar que estava em seus pulmões.

- Fico lisonjeada com tuas palavras, oh grande dragão... mas o que queres tu, com um animal de minha espécie? Não vês que meu voo é apenas entre o espaço e a terra? Não vês que és imenso e que sou esguia perto de ti?Concordas comigo que isto não passa de uma ilusão?

O dragão arfou profundamente e depois respondeu estrondoso:

- Vejo que lhe faltam pequenas coisas como a sensatez, minha cara, afinal, sou um ser místico, existo para teus olhos apenas e pra nenhum outro mais. Sendo assim, porque duvidas de minhas intenções para contigo? Se estou aqui, diante de ti, é para que também me queiras, assim como lhe quero por milênios até o fim.

- Mas somos tão diferentes e...

- Não estás me ouvindo com atenção, não é uma questão de escolha, estamos predestinados a uma vida juntos, nascemos para vivermos lado a lado...

- Perdoe-me então, mas como respondes o fato de vivermos pra sempre juntos se somente tu és imortal?

- És graciosa até em teus equívocos, minha bela. Viveremos a eternidade de nossos corações, unidos pelo amor que sentimos um pelo outro... por era, milênios, encarnações e pensamentos.

- Como podes saber de meus sentimentos se mal te conheço, fera indômita?

A ave estava admirada, mas não sabia o que aquilo tudo, surpreendentemente novo, lhe representava. Podia ser verdade o que o grande dragão lhe dizia? E, como lendo seus pensamentos, o dragão num penetrante e intenso olhar lhe revelou:

- Olhes tu em meus olhos e responda, podes não desejar a eternidade em experiências inigualáveis e viveres feliz ao meu lado para singrar os céus e o universo apenas com o desejo de teu pensamento? Amo-lhe, pois admiro tua força, tua destreza, tuas habilidades, teu carisma, tua raça de viver e... já estou em ti antes mesmo de descer até aqui para falar-lhe... tu podes ser amada por mim... posso eu, ser amado por ti?
Ela não conseguia encontrar palavras e em silêncio permaneceu. O vento soprou suave e constante enquanto a ave refletia. Ele olhava-lhe as penas lisas que dançavam poeticamente, ela olhava-lhe o tamanho mitológico que se perdia no tempo. Num átimo, era como se tudo sempre tivesse sido e nunca houvesse de ser escolhido...

- Sim – ela respondeu tímida e carinhosamente – podes...

Assim, desde este dia, os céus tomaram outras formas e as nuvens também. O verde ficou mais verde e a natureza se regozijou em felicidade por tão bela união. O pensamento perdurou por era e vidas e os dias passaram como simples segundos. O amor ultrapassou o tempo e viveu singelo como um bela lenda...






Publicado originalmente no dia 24 de janeiro de 2010, domingo.



2 comentários:

  1. Obstinado Dragão, boa noite. Obrigada pela sublime homenagem! Surpresa das mais agradáveis depois de um dia frio e cheio de trabalho. Agora chego em meu ninho e, mesmo distante, sinto o aconchego das suas escamas. Obrigada por me mostrar o que existe acima das nuvens! Amo cada voo contigo! (circunflexo devidamente eliminado) Amo você! Beijos da Codorna.

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  2. AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHH!!! Nada mais sublime do que o amor da minha codorna flamejante! Espero-te no nosso ninho e, nenhuma homenagem é grande o suficiente para retribuir teu carinho e amor!!!!! Beijos escamosos!!! S2

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