quinta-feira, 30 de abril de 2015

Conciso #2 - Pesquisar



Um dos ícones de pesquisa.


Pesquisar não custa nada, certo? Então por que é que tantas pessoas não sabem do que falam, não sabem o que dizem e, mesmo assim, afirmam coisas como se fossem uma verdade? Ou pior ainda, descobrem que estão erradas e continuam impondo sua ignorância. Por que tantas pessoas escrevem tão errado? E por que continuam escrevendo errado? Por que divulgam coisas absurdas e fazem comentários esdrúxulos? Pesquisar não custa absolutamente nada mesmo, basta apenas criar este saudável hábito.

Qual a vantagem do mundo moderno? A internet! E se você está lendo isso é porque está navegando por ela. Então, qual a dificuldade de transformar a pesquisa numa rotina cotidiana?

Antigamente, no meu tempo e também antes dele, pesquisar era, certamente, muito trabalhoso. Nos meus tempos de escola eu tinha que procurar tudo na Barsa, no dicionário, jornais, revistas e, quando não achava a informação, tinha que ir para uma biblioteca procurar por ela. 

Graças ao advento da internet, sua vida está cerca de 1000% mais fácil, mas... como diz o ditado reverso: "Pra quê facilitar se podemos complicar?", as pessoas estão simplesmente abandonando a coerência. A preguiça (para não dizer incompetência) está tomando a humanidade. Já dei exemplos de ignorância no meu texto "Corrente de Andrômeda!" onde falo das tão chatas correntes que lhe mandam sem ao menos pensarem se aquilo é verdade (claro que não é). Eis o link do texto: http://pedrodelavia.blogspot.com.br/2015/02/corrente-de-andromeda.html.

Acredito que, se você é um curioso(a), assim como eu, deve estar sempre pesquisando e se informando, então sinta-se feliz, você está salvo(a) e faz parte de uma minoria. Continue assim! Mas se você está lendo isso e está discordando de mim (ou até mesmo com raiva do que estou dizendo), então esse texto foi feito para você. O objetivo aqui não é criticar, é apenas informar. 

Quantas pessoas nós conhecemos que não possuem uma formação ou graduação? Quantas destas são eruditas ou ao menos esforçadas? Quantas destas últimas procuram aprender cada vez mais? O mundo tem salvação, chama-se educação. Não espere ninguém fazer isso por você, pois "você já tem a faca e o queijo na mão", então eduque-se, instrua-se, torne-se alguém melhor! Saber nunca será demais!



terça-feira, 28 de abril de 2015

A indubitável, mas questionável, história de All, o Orate.



Já me chamaram de louco, de insensato, de maluco, de mentecapto, e de tantos outros nomes que sequer conseguiria listá-los. Dizem isso de mim porque nunca conheceram All, o Orate. Mas eu o conheci e, pacientemente, escutei toda sua história... quando ele a contava já pela sétima vez. Foi assim:


Fugia eu, de um lado para o outro, entre as vielas e becos, cortando a multidão ao meio, desesperado, preocupado com o bem estar da minha vida. Logo atrás de mim vinham os guardas pessoais de Lord S., ansiosos por talhar-me a carne e levar-me embora os bagos. Vejam bem, devo acrescentar um detalhe, eu não havia feito nada, tinha plena convicção de que era inocente, mas não era o que o Senhor S. pensava de mim. Seus abrutalhados soldados - homens sanguinários que não doavam virgens inocentes aos dragões sem antes tirar-lhes a pureza - caçavam-me entre os transeuntes, como se caçava um ordinário Val enrugado de pele amarela. 

Ia eu correndo, meio que agachado para ocultar a minha cabeçorra desproporcional em meio a tantas outras cabeças, quando tropecei em pernas alheias e fui parar de cara no chão. Agilmente, enrolei-me numa manta fedorenta que estava ali por perto e pus-me a mendigar, como faziam os outros débeis homens, sentados naquele chão imundo, naquela praça sofrida. Um dos pedintes, provavelmente o dono da nada cheirosa manta, puxou-me o pano, quase revelando meus traços aos meus algozes a dois passos de mim. Dei-lhe um safanão e tornei a cobrir meu rosto. Sacudi-me de um lado para o outro - como aqueles à minha volta - recitando seus cânticos e lamuriando como faziam para pedir esmolas. 

Dois brutamontes do Venerável S. passaram à minha esquerda e outros dois à minha direita. Fiquei freneticamente absorto naquele balançar, na minha melhor performance de pedinte já feita até hoje. Os homens passaram sem me notar. Quando já estavam bem distantes, no fim daquela praça, levantei-me ainda de posse do manto emprestado à força e fui para o outro lado. Mas existiam muitos deles espalhados por toda a localidade e corri para um amontoado de pessoas ali perto. Misturei-me e aguardei. Olhei vez ou outra para todos os lados e identifiquei vários dos homens do Respeitável S. perambulando por todos os cantos. Fiquei quieto, temeroso por minha pele que seria maculada por lâminas não muito amoladas. 

Para minha tristeza, aqueles esfoladores não desistiriam tão facilmente de infligir-me a dor, então sentei-me em meio aos ouvintes daquele grupo. Como uma mão suave que acaricia, a voz daquele narrador tomou para si a minha audição e foi assim que eu conheci All. Um sujeito mais insano do que eu, contador de histórias duvidosamente verídicas. O rei sem reino, o Orate. Quando o escutei pela primeira vez, dizia:

"... a horda estava próxima, ouvíamos o ruidoso marchar. Pareciam trovões ecoando pela noite, cadenciados e mortais. Seríamos dizimados, pulverizados por seus dentes e lanças. Naqueles tempos, aquelas criaturas devastaram toda a população, não sobrou uma viva alma para contar história e..."

Um homem mais bem apessoado em meio a tantos desafortunados perguntou interrompendo:

"Como, se você está aqui narrando a história?"

Alguns riram e outros fizeram sinal de silêncio. All parecia ter uma legião de fãs e aos poucos eu entenderia por quê. 

"Se não interrompesse a história saberia, homem. Já levou o charco para a esposa? Se não purificá-la direito dessa vez, Sunna irá trocá-lo pelo irmão do ferreiro... se é que já não está fazendo isso nesse momento!"

Aquele aglomerado riu em uníssono, alguns até apontando para o desmoralizado corno que saiu indignado. Passou a passos rápidos por mim e não notou a bolsa de moedas que tomei-lhe habilmente. Continuei calado, infiltrado entre os fieis ouvintes de All.

" Não, amigos, não zombem. A verdade é muitas vezes deturpada, são somente sonhos fúlgidos, ignorados por nós mortais... mas, continuemos.

A horda já havia devastado tudo até ali, onde eu habitava em minha infância. Nossa vila era a primeira de nosso reino e estava na extremidade sul das muralhas do castelo. A estrada dos reinos do Norte desembocava bem na entrada de nossas residências. Não nos deixaram entrar pelos portões para abrigarmo-nos atrás das defesas, o rei havia ordenado. Estávamos perdidos. O som aumentava, a morte estava próxima. A horda marchou do Norte até nossas terras e seríamos os próximos. Ouvi pela primeira vez na vida o rugir de um Ror, um som de estripar os ouvidos. Eu e os outros garotos do meu grupo trememos involuntariamente. Todos aqui sabem o que um Ror é capaz de fazer."

Nisso um dos meus algozes apareceu de repente e se intrometeu.

"Velho estúpido. Somente a corja para dar-lhe ouvidos." - gritou para fazer-se ouvir.

O alvoroço começou. Muitos gritaram para o estuprador de virgens ir-se embora, outros somente reclamaram da palavra 'corja', pois não cabia-lhes o epíteto. Eu continuei disfarçado e aproveitei a desavença para surrupiar água quase limpa e um pedaço de cação defumado da barraca do peixeiro ao lado. Certifiquei-me que não seria notado enquanto arrancava nacos em famintas mordidas. 

Terminada a pequena balburdia, All retornou com a história como se nada tivesse acontecido.

"Um Ror é capaz de soltar-lhe o intestino e a bexiga só com seu rugir, imaginem a sua presença!"

"O senhor viu um, mestre All?" - perguntou um crente.

"Não, Bondodir! Não somente vi um, como fui o primeiro de minhas terras a eliminar um deles!"

Muitos suspiraram um "ooooh", alguns poucos apenas estalaram suas línguas em discórdia silenciosa. Eu bebi a minha água impura para empurrar um pedaço de cação goela abaixo. 

"E não usei nada além de minhas mãos e minha sagacidade." - outros suspiros - "Mas isso é uma história adiantada. Primeiro tenho que contar como aconteceu a destruição de meu povo e como eu consegui sobreviver para contar isso para vocês. 

... era madrugada, o som do marchar da horda retumbava no peito, tão alto era. Um Ror rugiu ainda mais perto, um som estridentemente grave e arranhado ao mesmo tempo. Dois de meus colegas ajoelharam-se implorando piedade ao deus Yia. Outros agacharam. O pequeno porão que estávamos escondidos foi tomado pelo acre cheiro de bosta. Estávamos apavorados. Chorávamos. Quando o rugido do Ror soou novamente a horda atacou e, ao mesmo tempo, toda chama que iluminava a nossa vila foi apagada misticamente. Foi quando os gritos começaram e, até hoje não sei dizer o que é pior, o rugido de um Ror ou os gritos de morte provocados por eles."

Peguei-me ouvindo com tanta atenção que nem havia terminado de engolir um outro pedaço mastigado dentro da boca. Engoli com dificuldade e fiquei ali por horas, dias e meses ouvindo aquela história. Pensam que não quis ir embora? A princípio sim, mas depois, nem mesmo quando me encontraram eu parti. Por isso ainda sei contar grande parte da história do nosso destemido ex-rei All, o Orate.


Conciso #1 - Leitura

Então surgiu essa ideia e pensei nesse título porque aqui só vou falar de coisa rápida. Aceito opiniões e sugestões.


"Leitura" do pintor brasileiro Almeida Júnior.



Por que as pessoas têm preguiça de ler? Se você ainda está pensando numa resposta, pare! Não acredito que as pessoas tenham realmente uma preguiça. Vou explicar meu pensamento.

Se o grande lance da internet são as redes sociais e nelas as informações (leia-se fofocas) são escritas, como é que podemos afirmar que as pessoas não leem? Os usuários passam horas navegando, postando, curtindo, compartilhando e comentando coisas. Sim, estão lendo. Então, por que é que as pessoas se auto proclamam preguiçosos leitores? Qual o sentido disso? 

Acredito que essas pessoas desconheçam suas capacidades, mas também acredito que o tempo de concentração seja ínfimo. São pequenos levantes de bravura, chamas que se acendem e se apagam rapidamente. Será que somos treinados e programados a retermos nossa atenção somente por breves instantes? Eu acredito que não, e você?



segunda-feira, 27 de abril de 2015

4 (quatro)




Para saber o que aconteceu anteriormente leia esses outros contos na ordem apresentada: 0 (zero), 1 (um), 2 (dois), 3 (três)!





"Se você é a morte, então mate-me agora!" - desafiei-o.

Ele olhou-me sério, mais sério do que já havia me olhado antes. Encarei-o de volta, como não costumo fazer, mirando-lhe os olhos. Seu semblante mudou de sério para pensativo e eu aguardei. Esperei que falasse-me algo. O tempo passou. Depois de alguns longos minutos, enquanto eu bebericava meu café, ele finalmente me respondeu.

"Por que acha que eu posso simplesmente levá-lo agora, neste instante?"

"Não acho nada. Só quero que me prove que você é mesmo quem diz ser!"

"Não preciso que acredite em mim, mas ao longo de nossa conversa você terá certeza disso."

"Sabe o que eu penso?, penso que você é apenas fruto de minha imaginação. Penso que; eu vejo você, eu ouço você e posso até mesmo tocá-lo, mas a verdade é que você não está aí, e sim aqui, dentro da minha cabeça."

Ele riu de minhas palavras. Continuei mesmo assim.

"Eu sabia que um dia chegaria nesse ponto. Posso parecer louco e introspectivo, mas se tenho uma qualidade, essa é a de discernir a minha condição. Sei que não sou como as outras pessoas. Sei que as afasto. Sei que meu comportamento não é o esperado. Ele foi o único que me amou pelo que eu era. Por isso não tenho mais ninguém. Por isso não quero mais ninguém. Quero só as palavras comigo até o dia de minha morte e assim o farei. Pensei que morreria com a mente sã, mas vejo que ela falha-me agora."

Fatos:

   - 1. O café estava frio, precisava pedir outro.

   - 2. Tenho consciência da minha condição. Só não a controlo. Sou assim e pronto.

   - 3. Tenho certeza, ele não existe.

Ele estudou-me, refletiu sobre minhas palavras. Ouviu-me com atenção sem interromper-me. Esperou-me calar e só depois de ouvir meus suspiros, piscou. Sorriu. Estalou a língua. Alongou o pescoço pendendo a cabeça de um lado para o outro. Moveu as sobrancelhas. Calou-se. 

Olhei para a atendente que passava e perguntei:

"Está vendo esse homem sentado diante de mim?"

A mulher olhou para ele, fez uma careta e disse:

"Sim." - voltou-se para mim e perguntou - "Quer mais alguma coisa?"

"Traga-me um novo café, por favor."

O meu acompanhante esperou pacientemente que a mulher servisse meu café numa nova xícara. A mulher saiu sem lhe oferecer nada.

"Aí está a prova." - acusei-o.

"Que prova?" 

"A de que você é fruto de minha imaginação."

"Qual prova?"

"Ela não ofereceu-lhe nada."

"Eu não quero nada."

"Você é uma imagem da minha mente."

"Sou?"

"Sim!"

"Quem trouxe-lhe os livros?"


Fatos:

   - 1. Droga! Havia esquecido dos livros.

   - 2. A mulher podia não ir com a cara dele.

   - 3. Nada me convenceria de que ele existia e ponto.


"Isso não prova nada." - respondi chateado.

"Até quando vai querer brincar com isso? Não existe nada melhor para se conversar com a Morte do que esse joguinho de existe e não existe?"

Calei-me.

"Vamos, converse comigo." - insistiu.

"Não quero mais falar."

"Nem mesmo sobre ele?"

Fatos:

   - 1. Golpe baixo usar nosso sentimento.

   - 2. Olhei novamente para a sacola de livros. Estavam ali.

   - 3. Tomávamos café todas as manhãs, enquanto líamos e meu companheiro sempre dizia-me...

"Não confie em quem não toma café!" - o homem sentado em frente completou meus pensamentos.

"Como sabe disso?" - indaguei nervoso.

"Sei de muitas coisas. Não tudo. Mas disso eu sei."

"Como sabia o que eu estava pensando?"

"Acho que adivinho essas coisas." - ironizou.

"Ah, você..."

"Af, 'você não existe', 'você não existe', pare com isso. Já está entediante." - disse ele interrompendo-me.

"Tudo bem." - respirei e refleti - "Ele está bem? Sente a minha falta?"

"Deve estar para ambas as perguntas."

"Você não sabe?"

"Não ocupo-me dos que já partiram, mas sim do que estão para partir."

"Então, por que levou-o de mim?"

"Não os escolho. Era a hora dele."

"E como foi?"

"Como de costume. Eu venho e os acompanho."

"Para onde?"

"Para longe daqui."

"Para o outro lado? Para..." - hesitei - "o paraíso?"

Ele riu alto novamente. Algumas pessoas olharam desconfiadas e incomodadas. 

"De todas as pessoas, você é a que eu menos esperava esse tipo de pergunta. Fascinante!" - disse ainda sorrindo - "Por que a pergunta?, você não acredita em nada, muito menos num paraíso."

"Então existe o paraíso?"

"Eu sou somente a ponte entre dois lugares. Não vivo aqui e nem lá. Não sei para onde vão."

"Ridículo!"- irritei-me - "Você alega ser a morte e não sabe de nada importante!"

"Eu disse, eu sou o fim. Não sou um novo começo. Não sou o antes. Não sou o depois. Sou apenas o instante. Você é quem não está sendo coerente."

Fatos:

   - 1. Eu estava perturbado.

   - 2. O café não era-me mais palatável.

   - 3. Tinha que terminar de ler o meu livro.


"Amanhã, no mesmo horário." - disse despedindo-se.

"Não!" - reclamei.

"Não vamos quebrar tanto sua rotina assim. Você precisa terminar o seu livro."

"Farei isso."

"Não compre mais nenhum. Você não terá tempo de lê-los. Estes serão os seus últimos." - disse apontando para os livros na sacola do meu lado.

Olhei para os livros e quando voltei-me para dizer mais alguma coisa ele já havia sumido. Previsível. Coisas de quem alega ser a morte e precisa provar sua existência.

Eu?, eu continuo duvidando.



continua...                 Para saber o que acontece agora, clique nesse link: 5 (cinco)




domingo, 26 de abril de 2015

Sem nada para dizer



Para abreviar a conversa vou começar pelo fim: acabou que eu não disse nada mesmo...

Por que escolhi começar do fim? Porque não faço a menor ideia sobre o que eu vou falar. Sei que estou com esse desejo louco de escrever, mas para não escrever muita bobagem optei por ser prático. Tenho infinitas ideias na cabeça e hoje elas estão se contorcendo e misturando. Acontece isso comigo às vezes, não sempre. O meu maior problema é a necessidade de expressão. Tenho esse impulso que me consome e que não se sossega nunca. Então eu escrevo e escrevo até não ter mais nada para dizer ou escrever. E aí, você já viu, né?! Acabou que eu continuo sem saber o quê eu queria falar, acabou que eu não disse nada mesmo...

sábado, 25 de abril de 2015

Borboletas e a brevidade da vida



Claustro abrigo
Invólucro ambiente
casca rompida
um novo presente

antes rastejava
agora põe-se a planar
tens também espaço
para subir e voar

tarefa nada fácil
deslocar-se no vento
no teu frágil corpo
um esforço tremendo

nunca desistes ou cansas
viaja longas distâncias
sempre focada e decidida
descuidada e desinibida

mas entretanto, todavia
por tanta força e peleia
despenca lá do alto
como o cavaleiro que apeia

e num último intento
em todo seu talento
suspira sem vigor
um último bater de asas
provando seu valor


... e viveu brevemente, como a brisa que um dia a impulsionou!


Auto da Compadecida - Ariano Suassuna - Editora Agir

Meu exemplar de 1988, caindo aos pedaços, mas lindamente magnífico!

Minhas considerações:


Não posso começar essa resenha falando do enredo, pois se você ainda não leu (ou não assistiu), deve ao menos ter ouvido falar dessa história. E eu preciso fazer isso porque a minha opinião (que será muito boa) deve vir primeiro. 

Tenho esse livro guardado na estante há muito tempo e ele estava lá, se empoeirando, esperando que eu o lesse e finalmente sua hora chegou (arrependo-me amargamente de não tê-lo lido antes). Meu exemplar é velho e puído, com a capa soltando, afanado de uma biblioteca de um colégio (algum antigo aluno me deu, deve ter sido esse aluno quem cometeu o delito, não eu, pois não furtaria livro nenhum de biblioteca nenhuma), mas é meu por direito (e por gosto).

O assunto "Auto da Compadecida" surgiu tanto na última semana numa conversa com um amigo que eu fui obrigado a pegar o meu exemplar parado na estante e ler. Leitura fácil, divertida, descontraída e muito gratificante. O livro tem 203 páginas que passam voando (se não tivesse tendo obra aqui em casa eu o teria lido em poucas horas).

Este volume está em forma de roteiro teatral, foi escrito originalmente em 1955 e encenado pela primeira vez em 1956. Eu só tomei conhecimento dessa peça quando ela foi adaptada para televisão numa minissérie da Globo (porcaria de emissora) em 1991 (assisti nessa época mesmo e foi, até hoje, a melhor coisa que já vi nessa porcaria de canal). Não sou acostumado a ler esse gênero literário, mas sou grande fã da literatura de cordel (Suassuna baseou-se nesse outro gênero para compor o Auto da Compadecida). Esse livro é tão lúdico e envolvente que você nem precisa de tempo para se acostumar ao gênero, porque, quando você se dá conta, já acabou. 

Não sou nem um pouco religioso, nadinha mesmo, mas Ariano é, e muito. E, confesso, fiquei arrepiado com o julgamento final e a convocação da Compadecida. A título de curiosidade: Suassuna anota logo no início do livro que os atores que representarão, respectivamente a Compadecida e Manuel (Jesus), não são dignos do papel. Em suas próprias palavras: 

"A mulher que vai desempenhar o papel desta excelsa Senhora, declara-se indigna de tão alto mister."

"O ator que vai representar Manuel, isto é, Nosso Senhor Jesus Cristo, declara-se também indigno de tão alto papel."

São poucos os livros que te fazem esboçar um sorriso, mais raros ainda são os livros que te fazem dar gargalhadas, e este é o caso, muitas gargalhadas, principalmente nos causos de Chicó e nas armações de João Grilo.

Gostei tanto do livro que pretendo ler mais coisas do Suassuna, talvez até sua obra inteira!

Se ainda não te convenci a ler esse livro (ainda hoje de preferência), deixo ainda o enredo para ver se, ao menos, desperto-lhe uma curiosidade.



Enredo:


Toda a peça se passa numa pequena vila (uma minúscula cidade do sertão) que consiste em uma igreja, um pátio de igreja e uma rua para entrar e outra para ir-se embora. Ah, e um lugar para o julgamento. A história é narrada por um palhaço que também interage com os atores.

Chicó é amigo de João Grilo e ambos trabalham para o padeiro e sua esposa. Chicó é um cabra frouxo, contador de histórias; e João, seu melhor amigo, é um sujeito amargurado na pobreza, cheio de criatividade e esperteza, que remói sua infelicidade por ter sido abandonado por seus patrões quando esteve doente. Os dois vão se enrolando em tramoias e enganando a todos; o padre, Sr. Antônio Morais, o sacristão, o bispo e o frade, o padeiro e sua esposa, além de outros.

Por fim, acontece um grande julgamento. E se alguém me perguntar como é que foi, eu responderei: "Não sei, só sei que foi assim."


Sobre o autor:



O autor, Ariano Vilar Suassuna (1927 - 2014)


Suassuna era um icônico paraibano, nascido em João Pessoa no dia 16 de junho de 1927, um sujeito que não gostava de viajar e nem de tomar café, que adorava sua terra e era apaixonado pela literatura de cordel. Projetou-se com a peça Auto da Compadecida em 1955, entre tantas outras de suas obras. Escreveu, em sua grande maioria, para o teatro, mas também publicou alguns romances e muitas poesias. Vendo suas entrevistas e lendo suas reportagens, nota-se claramente um ar matuto e espertalhão aprofundado pelo sotaque melodioso e curioso do Nordeste. Na minha opinião, Ariano foi uma combinação de seus dois famosos personagens, Chicó e João Grilo, não dá para não se divertir lendo e ouvindo Suassuna.


Adendo:


Duas entrevistas com o autor, exibida originalmente em 2001 pela Globo (porcaria de emissora que se salva de vez em quando) dividida em duas partes. Aconselho a ver todas as entrevistas relacionadas, pois ouvir Ariano contar causos, é para chorar de rir:





sexta-feira, 24 de abril de 2015

Amizade é construída



Sim, sim. Acabou. O pessoal foi embora. A obra terminou. Depois de alguns dias lutando por um lugar ao sol (essa frase seria mais bonita com "chuva") a bonança finalmente veio. O dia começou claro e lúcido. A casa toda iluminada, toda arejada, bem menos barulhenta. Só falta daqui sair o pó (partícula insistente que custa a ir embora. Pode-se varrer por semanas a fio e, mesmo assim, essa película impertinente continuará passeando pela casa).

O que me alegra mais é saber que, ao menos, o lado de fora da casa está bonito! Sim, somente o lado de fora, mas por dentro eu dou um jeito, pois nesses dias de trabalho muita coisa aprendi (eu ralei junto, mesmo que não tanto quanto os contratados). Um tipo de telecurso para construção: "- Ei, Zé! É para fazer a massa? Quanto eu misturo de cimento na areia?" - ao menos era assim nas madrugadas em claro assistindo TV. 

Acredito em mim, acho que dou conta de realizar algumas modificações internas. Mas não por agora. Agora eu vou tirar férias da construção e voltar aos meus afazeres regulares. Tocar todos os dias, escrever todos os dias, ler todos os dias, estudar e pesquisar todos os dias e dormir até mais tarde todos os dias (e tudo isso com uma caixa d'água cheiinha para dar descarga o quanto eu quiser).

Mas existe uma ressalva; embora tudo fosse muito incômodo, chato, irritante, estressante e até insuportável, umas coisas farão falta. Ouvir aquele sotaque nordestino e simples que cativa e agrega simpatia. Ouvir aquelas músicas evangélicas (que eu detesto), mas bem cantadas. Conversar sobre empreendimentos virtuais. E até gravar "uns rock" num pendrive. Não sei da parte deles, mas da minha criou-se uma amizade. E, vez ou outra, vou ter que chamar o pessoal para um bate papo, nem que para isso eu precise derrubar uma parede, um telhado, ou até mesmo a maldita caixa d'água!

quinta-feira, 23 de abril de 2015

O Homem sem futuro (revisão)




 Eu estava bisbilhotando o passado, relendo textos antigos, buscando coisas interessantes que um dia cheguei a escrever (em meio a todas as bobagens que um dia já postei) e me deparei com esse escrito. Pelo que li e entendi, o personagem/narrador sou eu mesmo, no entanto, numa situação hipotética, meu pai está morto. Não lembro o que aconteceu no dia para eu escrever algo assim tão pesado (ao menos me pareceu assim, agora, em dias atuais), mas sei que meu pai estava vivo nessa época e, mesmo assim, eu o matei no texto (freak). Confuso! 

Mas gostei do texto em si e entendi a mensagem nas entrelinhas, um recado para mim mesmo. Uma longa jornada filosófica que se estende e se arrasta até hoje. Melhoras em alguns campos, pioras em outros, mas sempre uma evolução. Assim espero. Acho que propago uma grande guerra interna contra mim em épicas batalhas literárias e esse é mais um desses momentos. Espero que este conto os agrade assim como agradou-me.




Essa é a história do homem sem futuro que, por um acaso, ainda não está completamente escrita. Antes de assentar-se – na cadeira nada confortável – diante de seu (péssimo) computador e começar a escrever sobre sua vida, o homem sem futuro havia passado por maus bocados, pois naquele dia fatídico o homem que o havia inspirado morrera! Esse homem, nada mais nada menos que seu pai, outrora, teria sido sua fonte de inspiração. Era muito inteligente e muito sagaz. Praticamente autodidata, seu velho pai, era uma fonte inesgotável de saber. Era também o homem que ensinara o valor do sofrimento e, por fim, o gosto amargo do ressentimento. 

Mas o que é isso tudo para alguém que sequer teria um futuro? 

Foi pensando nisso e em todas as coisas horríveis que havia passado do princípio dos seus dias até ali que, o homem, aquele sem futuro, decidiu realmente mudar a sua vida. Primeiro, matou psicologicamente o seu maior herói. Para isso, dispôs de muita dor e muita raiva. Feito isso, expulsou de sua existência seu criador, amigo, pai e também causador de grande parte de sua dor. – Não impressionem-se com suas atitudes, afinal, ele não tinha futuro – Segundo, preparou seu espírito para suportar o que mais tivesse que viver dali para frente: mais dor! Bem da verdade, não seria tão difícil assim, pois viveu a vida assim quase que todo o sempre.

Sentado diante de seu teclado e digitando velozmente as teclas, o homem sem futuro, pensava no passado para constituir em palavras o seu presente. Cada frase escrita era um poço inefável de angústia, mas, mesmo assim, prosseguiu em seu destino. Avaliava cada uma de suas palavras, como se a própria Dor é quem estivesse escrevendo. Não entendia completamente o objetivo daquilo que estava fazendo. Sabia, no entanto, que o devia fazer. 

Uma única chama, bem no fundo do seu ser, repetia: “vou mostrar a cada um deles o que é um homem sem futuro”, aquilo cutucava-o sem parar, mas não prestou atenção, apenas ignorou. Digitava todos os pormenores de suas frustrações. Não estava disposto a deixar sequer uma ponta solta do seu sofrimento. Era-lhe obrigatório desfazer-se das feridas. Tinha de cicatrizá-las imediatamente. Quanto mais palavras apareciam na tela branca mais preenchida de talhos ficava sua alma. Já estava com o espírito em frangalhos bem na metade da página escrita quando percebeu que, de fato, o que deveria mesmo fazer, era trancar toda aquela dor no âmago do seu ser. Arrependeu-se de ter começado aquele texto, mas inexpugnavelmente desejou terminá-lo.

Lá pelas tantas, não vendo mais saída para tanta desgraça (e Deus sabe o quanto sua mãe o xingava por dizer essa palavra), sucumbiu ao desejo de estar morto e esquecido. E, mesmo enquanto morria para a vida feliz e alegre – que na verdade não passava de uma grande farsa – continuou ouvindo uma voz que lá do fundo dizia: “Homem sem futuro é o caralho!” 


Publicado originalmente no dia 21 de dezembro de 2010, terça-feira.

terça-feira, 21 de abril de 2015

Neuromancer - William Gibson - Editora Aleph

Meu exemplar de Neuromancer da editora Aleph de 2014.


Enredo:


Trata-se de uma ficção futurística. Nosso planeta está diferente, a tecnologia domina a Terra e as realidades se mesclam; de um lado existe o plano real (físico) e do outro está a Matrix (o ciberespaço). Para acessar a realidade virtual temos os chamados cowboys, os conhecidos hackers, que se plugam com eletrodos no cérebro aos seus consoles (decks) para viajarem e agirem na Matrix. Um destes jovens cowboys é Case, que vive de furtos de segredos eletrônicos, atacando as grandes corporações tecnológicas, mas que está banido do ciberespaço porque traiu seus antigos contratantes, que colocaram uma substância no seu corpo que o impede de se plugar (flipar) a qualquer console. 

Case está beirando seu fim com o consumo abusivo de drogas ilícitas, álcool e cigarros quando conhece Molly, uma samurai moderna com navalhas implantadas sobre os dedos e lentes espelhadas cobrindo seus olhos (vide capa do livro) que lhe oferece uma solução: trabalhar para um misterioso homem chamado Armitage, que além de contratá-lo, irá dar-lhe a oportunidade de se conectar novamente à Matrix, eliminando a toxina de seu organismo e regenerando sua saúde.

Mas existe alguém por trás de Armitage e, Molly e Case, pretendem descobrir o que está acontecendo. Case é operado e tem seu pâncreas substituído para poder se plugar novamente, mas seu contratante adicionou uma garantia de serviço nessa cirurgia, saquinhos que vão se dissolvendo aos poucos e que poderão impedi-lo novamente de se conectar à Matrix ou até mesmo matá-lo. Case corre contra o tempo para servir Armitage em seus planos e, simultaneamente, descobrir o quê (ou quem) está nos bastidores dessa enigmática aventura.


Edição:


Meu exemplar é de 2014, mas a "retradução" é de 2008, feita para comemorar os vinte e cinco anos do lançamento do livro original. Esta é uma reedição de Neuromancer pela editora Aleph (que publicou esse título pela primeira vez no Brasil em 1991). William Gibson introduziu o conceito "cyberpunk" com esta obra, o que lhe rendeu três famosos prêmios no gênero ficção científica: Hugo Award, Nebula Award e Philip K. Dick Memorial Award.

Este livro influenciou e ainda influencia muitos escritores e diretores, alguns filmes famosos, como Matrix e A Origem, também são obras inspiradas nas linhas de Neuromancer. Você já assistiu Johnny Mnemonic, pois então, este filme é baseado num conto de Gibson (e também roteirizado por ele, o texto original é de 1981), anterior ao livro em questão, e que apresenta uma de suas personagens: Molly. Na verdade, Neuromancer foi escrito como livro único, mas acabou se tornando o primeiro volume da Trilogia Sprawl. Mas o que há de tão especial nessa obra? Simplesmente o fato de Gibson conseguir descrever tecnologias e termos inexistentes para a época, e também disseminar o elemento punk e gótico futurístico.



O autor de Neuromancer e divulgador/criador do estilo cyberpunk, William Gibson.

Sobre o autor:


William Ford Gibson é natural da Carolina do Sul (USA), da cidade de Conway, nascido em 1948. Mudou-se para o Canadá para fugir de uma convocação para a Guerra do Vietnã conseguindo a dupla cidadania em 1968 e tornando-se escritor em tempo integral. Gibson cunhou a palavra ciberespaço no seu estilo de escrita chamado de cyberpunk, que consiste numa dicotomia entre tecnologia avançada e uma vida pobre num futuro provável e não muito distante da realidade. Neuromancer (1984) foi seu primeiro romance, seguido de Count Zero (1986) e Mona Lisa Overdrive (1988), que são os três livros da série Sprawl. Seus contos e histórias são, em sua maioria, no gênero de ficção científica. Suas obras foram muito elogiadas e premiadas. Ele também escreveu para TV (alguns episódios de Arquivo X) e cinema (o roteiro original que seria usado em Alien 3). Hoje ainda escreve e cria, influenciando muitos autores, diretores e também bandas como U2 (que fez uma turnê baseada na visão cyberpunk futurística do autor) e Dope Star Inc. (que lançou um álbum com o título: Neuromancer, baseada em seu primeiro livro)


Minhas impressões:


Eu não fazia ideia do que leria até começar a folheá-lo. Eu sabia previamente de duas coisas: era um livro de ficção científica (que eu gosto bastante) e o livro tinha servido como referência na criação do filme Matrix (que eu gosto ainda mais). Não precisava de outro motivo para lê-lo então.

Este é um livro de porte médio, com 319 páginas, incluindo um glossário, introdução do autor e algumas páginas sobre a influência do livro na cibercultura.

Quando comecei minha leitura (depois de ler todo o glossário, como recomendado no início do livro), deparei-me instantaneamente com a primeira dificuldade: o vocabulário. O autor criou muitas palavras, termos e gírias para descrever situações e ações por todas as páginas do livro que, mesmo que você tenha lido o glossário (como eu fiz), você ainda assim se perde.

É um livro denso, de ações e cenas rápidas e filosóficas. Em alguns momentos do livro eu me perdi e não fazia a menor ideia se o que eu estava lendo estava acontecendo no mundo físico ou se era no ciberespaço. O tempo todo acontece essa transição de um plano para o outro e nem sempre conseguimos percebê-la, pois é algo repentino e muito sutil.

Fiquem atentos, pois o livro contém muita violência, uma cena de sexo explícito (fiquei surpreso, pois nunca tinha lido nada assim nesse gênero literário) com palavreado vulgar, linguajar pesado e brutal, muitas, mas muitas gírias e palavras desconhecidas e não usuais, uso abusivo e destrutivo de drogas, roubos, mortes, lutas, politicagem, viagens alucinógenas e virtuais, traição, planos maquiavélicos, loucura, ilegalidade e tudo mais que se possa pensar de vil e indecoroso.

Neuromancer não é um livro infantojuvenil, com toda certeza (graças aos deuses), mas é um livro delicioso de ser lido, com uma história profunda e recheada de reflexões. Tudo corre muito rápido (pois o livro é curto) e a narrativa é completamente diferente de qualquer uma que eu já tenha lido. Tirando toda sua complexidade (que ao meu ver só o torna mais interessante) e dificuldade de ser lido, eu recomendo essa história que é muito bem construída e articulada. Estou ansioso para ler os próximos dois que completam essa trilogia, mas antes, pretendo relê-lo, pois esse é o tipo de livro que não se absorve tudo numa só leitura.




Essa é a capa da edição original de 1984.


sexta-feira, 17 de abril de 2015

Descarga com um balde

 
 
E eu achando que viver sem água e luz seria uma coisa fácil...
 

Como a maioria já sabe, aqui em casa está acontecendo uma grande obra. Algumas coisas difíceis andam acontecendo concomitantemente, por exemplo: 
 
  • é complicado manter o foco e a atenção com tanto barulho e desordem. Sim, uma grande bagunça barulhenta está preenchendo os meus dias indefinidamente.
 
  • trabalhar com afinco e ardor não está sendo uma opção. Estou aprisionado nessa anarquia, esperando ansioso a minha liberdade (não, não estou reclamando, só esperando) para voltar a produzir como antes.
 
  • nem mesmo estou conseguindo ler, coisa que achava que eu conseguia em qualquer situação. (dentro de ônibus, filas de bancos, andando na rua, numa manifestação, dia de jogo, durante uma guerra, invasão alienígena, mas não durante uma obra aqui em casa)
 
  •  sair para fazer alguma coisa na rua requer um trabalho demasiadamente custoso. Estou tendo mais dificuldades com o conforto dos meus bichos (que são os mais prejudicados) do que com qualquer outra coisa. Não posso simplesmente sair para seguir a minha vida e deixar os bichos apavorados com o barulho e outras desventuras.
 
  • o cheiro de tinta e solventes está realmente desagradável. É tanto produto misturado com outras coisas como: poeira, que nem mais sei dizer se ainda tenho um olfato. (Imagine o que meus cães não estão passando)
 
  • não consigo mais tocar e praticar, como faço (leia-se: fazia) diariamente, pois meus instrumentos e equipamentos ficam parecendo móveis de uma mansão abandonada, como nos filmes de terror, abarrotados com uma espessa cobertura de pó.

  • escrever também não está funcionando, pois preciso de um mínimo de paz e sossego, coisa que não existe mais nesse lar.


O que me restou fazer em todos esses dias?

  • Vez ou outra eu tento aprender alguma coisa lendo, 
 
  • dou uma mãozinha aqui e ali na obra, 
 
  • faço anotações do que quero escrever (para dias futuros), 
 
  • arrisco um texto (como este, por exemplo), 
 
  • escuto um som, 
 
  • toco alguma coisa no violão (só para não perder a prática),
 
  • limpo poeira (a cada três ou quatro minutos, aproximadamente), 
 
  • tento me entreter e me informar na internet.


 Mas o que diabos isso tem a ver com o título do texto???


 Simples: com a reforma, a caixa d'água foi retirada e será substituída. Neste ínterim, tenho que buscar água no tanque para:

  • lavar louça (isso quando não levo a louça para o tanque),
 
  • tomar banho (sim, tem que ser gelado),
 
  • beber água (é isso mesmo, nada de água filtrada, privilégio de poucos),
 
  • e, principalmente, dar descarga no vaso sanitário (se vocês soubessem quantos baldes são necessários para fazer alguma coisa descer definitivamente pelo buraco...)



E o melhor disso tudo, o que é?


Eu estou sem caixa d'água há apenas dois dias! Imagine uma vida inteira, sem água e sem luz (por sorte, ainda tenho luz), vivendo desse jeito?!?! Tô fora!


terça-feira, 14 de abril de 2015

Natural (revisão)



Deparei-me com este desejo antigo (mas ainda atual) de ir-me embora para o campo. Qualquer lugar sossegado, desprovido de agitação. Gosto da cidade, mas é um lugar sonoramente irritante. Quero ser irritado por sons de grilos e cigarras durante a noite e despertar com o som de pássaros cantando. São coisas assim que me fariam mais feliz. Quem sabe este dia esteja mais perto do que imagino?! Espero que o quanto antes. Eis o verso que cabe até hoje em mim:



E nessa ventura sem fim
Bonança, mansidão e calmaria
No acinzentar do novo dia
O frio do céu fechado, calado.
Rebate a arte em verso livre que
Consiste em navegar em celulose,
Pomposo gesto nobre de criar.
Gotas caem ao chão seco
Ventos médios sopram os arvoredos
A pena corre o espaço branco.
Completam os pensamentos as letras
Juntam-se os pupilos a aprender,
Entre quatro paredes, os versos de
Homens livres, homens dos campos
Dissimulados vivendo nas cidades.
Quero’ embora daqui e o ar respirar.
Ler, escrever e ver a Natureza nua
Sem sons estridentes, recorrentes
Quero deixar a fúria em prol da serenidade
Ver o dia escuro e tempestuoso
Do alto de uma bela montanha
Ter ao lado a pessoa amada e
Também a criação, toda ela.
Cultivar e colher todos os frutos
De se estar livre do temeroso
Dia urbano que me entristece.
Oh, amada Mãe, recolha teu filho
Choroso, necessitado da paz
De teus seios fartos de verde!


Publicado originalmente no dia 4 de outubro de 2011, terça-feira.

 

Muito curto

Os versos curtos
são para preencher
o espaço vazio que
temos de nos submeter

não muito longos
algo apenas sugerido
talvez até muito fácil
de ser esquecido!

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Pau para toda obra



Então as paredes estavam caindo, o telhado cheio de furos, o reboco todo solto, o chão quebradiço, mofo, umidade, cupins, sujeira, bagunça, trincados, goteiras e, muita, mas muita poeira!

Foi assim que tudo começou aqui em casa, poeira! Depois daquelas fortes chuvas de umas duas semanas atrás as paredes estufaram e, em seguida, caíram. E quase em cima da minha cabeça. Sim, é um fato. O muro do estabelecimento ao lado faz divisa com minha casa e, num belo dia pós chuva, veio abaixo bem quando eu limpava lá fora. Caiu a uns três passos de mim (levantando aquela nuvem de pó), o suficiente para alarmar-me. Chamei o dono da casa e ele constatou que realmente algo deveria ser feito. Aproveitei-me do ensejo e mostrei todos os outros defeitos. Adivinhem o que aconteceu?

Bom, deixem-me esclarecer alguns pontos; eu moro num bom bairro e com tudo muito perto daqui de casa, apenas uns dez minutos de ônibus até o centro. O problema reside na residência (com o forçar do pleonasmo). A casa, mais conhecida como barracão, que é uma casa no fundo de um comércio, estava nas últimas. Todos aqueles problemas citados no primeiro parágrafo fazem parte desse lar. O quê eu consegui?

Com muito custo e a boa vontade do empreiteiro da obra em convencer o locador, os donos do imóvel decidiram refazer uma boa parte da área externa da casa. Sim! Estou há duas semanas em obras e a casa está um caos. Não! Não estou reclamando, estou é feliz para c@-$%- #&o! Tudo, menos continuar como estava. Mas tenho algumas ressalvas, pois o interior da casa, que está péssimo, não será mexido. A não ser é claro que eu desembolse a grana para fazê-lo, coisa que não acho justo, pois eu não combinei nada com os cupins e o mofo para destruírem a casa que, eu tinha certeza, estava ótima quando aluguei.

E o que já aconteceu até então? Tudo foi revirado. Meus cães estão quase sem espaço, pois passam o dia presos para os trabalhadores poderem circular livremente. A poeira, que iniciou toda a história, está presente todos os dias. Tudo entulhado, bagunçado, destruído e reconstruído. Ou seja, tudo na mais perfeita ordem caótica. 

Hoje, até começaram a mexer no telhado da casa. Para consertar as goteiras? - alguém pode me perguntar. Não! Para tirar tudo de cima da casa porque o telhado estava condenado, com toda sua estrutura roída de cupins. Achei ruim? Não, não mesmo! Prefiro toda essa desordem do que ter que continuar vivendo (e pagando caro pra caramba) num território inóspito e insosso. Inclusive, tive uma boa participação, subi no telhado e juntei telha e desci telha e fiquei coberto da mais bela e fina camada de pó.

E não pense vocês que o trabalho termina todos os dias quando todos vão embora, pois é nessa hora que eu começo a lavar tudo e retirar tudo que for perigoso para poder soltar meus amados bichos. Aí eu lavo, limpo, cuido e só termino por essas horas. E na manhã seguinte, bem cedinho, acordo (cheio de olheiras) para limpar toda a bagunça dos meus filhotões, para deixar tudo limpinho para a poeira se assentar. 


Forasteiro (revisão)


Este é um conto meio macabro, mas que desenvolve um de meus personagens preferidos. Escrevi este texto há quase cinco anos e sua saga ainda continua (num dos meus muitos cadernos). Esta foi a primeira coisa que postei sobre ele no meu velho blog. Muita coisa mudou desde então, mas sua crueldade continua a mesma. Eis a história:



Catastroficamente arguiu ele ao estranho, buscando uma simples resposta. Ficou chocado quando parou de sentir seu coração. Nada mais depois disso conseguiu sentir. Caiu estatelado no chão e ali ficou, imóvel. Não, não tinha nada a ver com isso. Ao menos foi o que pensou uma fração de segundos antes de ser assassinado. Na verdade tinha a intenção de provocar uma briga. Acabou por conseguir. Não imaginou que perguntar ao estranho de onde ele era provocaria esse tipo de coisa. Acabou no que acabou. Deslizou lentamente para o chão, extinguido.

Seus comparsas custaram a perceber o que tinha acontecido. Não estavam entendendo a cena. Primeiro, mandaram o mais fraco deles provocar o homem e viram quando este ia indo em direção ao forasteiro. Viraram-se para o bar e quando ouviram um barulho, já era tarde, John havia tombado. Ficaram sem entender, buscando respostas. Olhavam de um lado para o outro, de uma cara para outra e entre eles mesmos. Nada, todos estavam espantados. Todos com a mesma feição. Na confusão toda, Marcus – o líder da corja – procurou vestígios do alvo. Encontrou-o sentado na mesma mesa que estava antes, a uns cinco passos de John - o caído. Rosnou bravio e foi em direção ao parceiro desfalecido. Seus homens o seguiram. Todos os sete restantes. Um deles se abaixou para o homem deitado e examinou-o: “está morto, chefe!” - disse olhando assustado. Marcus cuspiu forte no chão e gritou:

— Quem derrubou este homem? O que aconteceu com ele?

Nada, nenhuma resposta. Marcus era um bandido manjado na região, traficava armas e outras coisas mais sem se preocupar com inimigos. Todos o temiam. Gostava das coisas como elas eram. Aquilo o desagradava e todos no bar sabiam disso. Quem achasse ruim com ele, acabava desaparecido. Mesmo quem não achava nada, mas tinha a cara que Marcus não gostava, desaparecia. Por isso, nada de respostas.

— Digam alguma coisa! – berrou novamente – ou verão o que eu sou capaz de fazer. Andem!!! – gritou colérico.

Um homem baixo se aproximou, tremendo, perto da gangue, sem ousar olhar-lhes diretamente. Seus olhos fixos no chão. Começou a gaguejar uma resposta:

— A-acho q-que que f-fo-foi aque-quele ho-homem... – e apontou para o forasteiro.

Marcus não precisava de mais motivos e nem de mais explicações. Arrancou o homem que tremia assustado de sua frente num único puxão e caminhou pesado para o estranho. O homem estava sentado e tomava calmamente alguma coisa numa caneca, segurando-a com as duas mãos.

— Foi você quem fez isso? – perguntou com a voz engasgada de ódio. No calor da situação, nem sequer lembrou de que era exatamente isso que John deveria fazer: incitar uma peleja. E seu capanga havia realizado com louvor sua tarefa. Não como haviam planejado, mas aquilo bastava.

O homem permaneceu imóvel. Apenas se moveu para bebericar de sua caneca. Aquilo enfureceu ainda mais o líder dos bandidos. Marcus sacou sua arma e encostou o cano na cabeça do indivíduo que lhe ignorava. O estranho, após terminar de pousar a caneca sobre a mesa, permaneceu imóvel. Os dois ficaram ali parados. O momento se intensificou com as risadas fortes de seus empregados. Eles estavam todos ali, em torno dos dois rivais. Marcus, sem pensar em mais nada além de querer ver os miolos do forasteiro voar sobre a mesa, engatilhou a arma. Nesse átimo, sem que qualquer um que estivesse ali pudesse ter percebido alguma coisa, Marcus tombou inconsciente para trás. Alguns ainda riam quando o corpulento chefe encontrou o chão. O baque foi surdo. A cabeça do homem quicou duas vezes antes de ficar inerte. Dois homens abaixaram-se em socorro do patrão. Os outros sacaram suas armas desesperadamente sem saber pra onde olhar e pra onde apontar. Ficaram todos atônitos. O que representava aquilo? Em quem deveriam atirar? O forasteiro, por fim, virou-se calmamente em direção a corja, levantando-se muito vagarosamente. As armas foram engatilhadas e apontadas para o homem.

— Sabem onde eu vi coisas tão assustadas como essas caras que eu vejo aqui hoje? – disse o homem numa voz rouca e grave.

Alguns dos homens tremeram. Alguns clientes, que não faziam parte daquilo, saíram sorrateiramente. Uns mais curiosos ficaram, os mais covardes saíram antes mesmo de Marcus sacar sua arma. Os dois homens que estavam em socorro do líder, percebendo a movimentação, puseram-se em prontidão para o próximo conflito. Levantaram-se tão assustados quanto os demais que já estavam ali em poder de suas armas. O caos estava formado.

— Ouçam, vocês podem até gostar dessa minha história – continuou o forasteiro sem se incomodar com os sete homens armados à sua volta – de onde eu venho, tem muita gente que cria... hum... vamos chamar de pássaros. E, de repente, um dia, sem mais nem menos, os pássaros começaram a desaparecer. Ninguém conseguia compreender o que tinha acontecido com os bichinhos. Queriam respostas, queriam soluções, estavam indignados. Mas, o mais importante é; sabem o que o pessoal de lá fez? – ele esperou um tempo e o silêncio era total. Por fim, ele mesmo respondeu – Nada! Estavam todos muito assustados com aquilo e ninguém tinha coragem o suficiente para resolver a questão.

Os capangas não entenderam bulhufas, pois a atenção dos homens não estava na história mas sim na situação. O estranho homem era alto como todos os outros daquele lugar, mas tinha uma cara que nunca nenhum daqueles meliantes havia visto na vida. Os cabelos do homem eram enigmáticos como todo o resto, tinham uma cor diferente, assim como seus olhos. Sua pele era queimada de sol, mas não bronzeada ou avermelhada, como as peles comuns, ela tinha um tom cinza que não condizia com o que era conhecido. Suas roupas também eram esquisitas. Seu jeito de falar também era peculiar. Não portava nenhuma arma aparente. Tudo que aquele forasteiro possuía era uma estranheza singular.  Mas só aquilo era o suficiente para deixar homens maus com medo.

— Um dia, um ferreiro da região pensou: “vou trazer o mago!” – continuou então o homem em sua história sem se importar com o que podia lhe acontecer – Mago, para vocês que não sabem o significado do termo, é o nome que damos para um sujeito especial que sabe lidar com tipos especiais de problemas. Bom, o ferreiro, que era um sujeito sensato, arrecadou uma quantia de cada um dos moradores da cidade para poder pagar o tal sujeito – o forasteiro ia narrando e os bandidos ficando cada vez mais confusos. Suas palavras assombravam aqueles homens. O clima ia se intensificando e esquentando e, satisfeito de seu intento, o estranho prosseguiu – O ferreiro foi até o lugar onde sabia que encontraria o mago e antes de lhe falar o que queria, ofereceu-lhe, de mãos estendidas, uma sacola cheia de uma pequena fortuna. O mago, sabendo do que se tratava aquele volume, mandou-o deixar a sacola no chão e se retirar. O ferreiro estava assustado e tentou explicar o porquê do pagamento, mas, antes que pudesse dizer qualquer coisa, o mago disse: “saia imediatamente daqui! Já sei o que quer e irei resolver o problema de vocês hoje à meia noite!” - disse o forasteiro imitando uma voz brutal em tom de chacota.

Nisso, um homem que estava à direita do estranho, apontou sua arma desesperadamente para o alvo. Estava aflito e nem percebeu o que estava fazendo, mas antes que pudesse disparar, caiu duro feito rocha. Os outros só puderam ver o companheiro desfalecido no chão. Ficaram mais agitados, nervosos, mas nenhum teve a coragem para tomar uma nova iniciativa. Estavam paralisados. O estrangeiro dominava o Caos, como se fosse ele O próprio!

— Bom, antes que eu seja interrompido novamente, vou concluir a minha história – disse o homem sem se importar com o pavor imediato – Naquele mesmo dia, exatamente à meia noite, as pessoas já todas recolhidas em suas casas – seguindo recomendações do ferreiro – começaram a ouvir sons surdos de coisas caindo, como grandes sacos de batatas atirados no chão. Ninguém se atreveu a espiar por suas janelas para ver o que acontecia do lado de fora. O fato é que, quando saíram de suas casas na manhã seguinte, havia muitos, mas muitos... hum... vou chamar de predadores. Havia muitos predadores mortos por todas as ruas da cidade. Os moradores ficaram satisfeitos com a resolução daquele problema e nunca mais chegaram a ter outro tipo de incômodo novamente. Nunca, porém, puderam agradecer o famoso mago, sabem por quê? Porque este tinha ido embora para resolver um problema de... hum... vou chamar de praga, numa outra cidade. Essa praga estava crescendo demais e estava assustando todos naquele lugar. Quem contratou o tal mago, foi um dono de um bar, onde essa praga toda ia se embebedar e judiar de estranhos e conhecidos, traficar armas e levar o terror a todos os inocentes cidadãos. A cidade estava cansada de ser importunada e incomodada com aquele monte de tralha que não tinha o que fazer. Bom, o mago, como excelente trabalhador e “resolvedor” de problemas que ele é, foi até a tal cidade, se sentou no tal bar para tomar um chá e ficou esperando a praga aparecer. E sabem o que ele fez com a tal praga? – ninguém se atrevia a responder, estavam todos apavorados com suas armas chacoalhando, sem mira ou foco. 

O  forasteiro levantou a mão pausadamente, como a seguir um ritmo cadenciado, de ângulo em ângulo ele levantou a mão até que essa apontou uma coisa na parede. Sua mão prosseguiu num movimento contínuo, como a seguir o ritmo do pêndulo do relógio pregado na parede que ele apontava. Um dos homens - o único que se atreveu a olhar para onde o forasteiro indicava - pode ver no seu último segundo de vida, o relógio de parede marcar exatamente meia noite.

Ao soar a primeira badalada do relógio, nove corpos jaziam aos pés do forasteiro... 



Publicado originalmente no dia 4 de outubro de 2010, segunda-feira.

sábado, 11 de abril de 2015

Mundo (revisão)

Esse é mais um dos meus antigos versos. Lendo-o novamente senti a amargura de minhas palavras, mas sinto também uma chama de esperança, uma revolta em forma de querer. São versos tristes, palavras melancólicas e profundas, mas são palavras de um tempo, de um momento que, hoje, nem mais sei qual é.

Que mundo é esse
Que me entristece
Que me engrandece
Que atrai e me distrai
Que me alegra e me contenta
Que me avacalha e arrebenta

Que mundo é esse
Que me dá onde pisar
E em seguida retira meu chão
Que equilibra
Que atira lá de cima
Que fez nascer
E me quer morto

Que mundo é esse
Que tenho que viver
Que tenho que sorrir
Mas que tanto choro

Que mundo é esse
Que me faz levantar
Que me faz acreditar
Que me faz seguir
Que me faz novamente sorrir
E que, por fim
Me faz cair

Que mundo é esse
Que me elogia
Que me enaltece
Que me abraça
E me aquece
Que me dá um motivo
Pra continuar
Que me faz pesar
Lamentar
Chorar...

Que mundo é esse
Cão
Arranca com a mão
Da boca de um irmão
A razão
A dureza de seguir
Por não ter mais por onde ir
Por não fazer acontecer
Por não socorrer
Por não ajudar
Por simplesmente
Deixar...

Que mundo é esse
Que desanima
Que extermina
A vontade de estar aqui
Que reacende
Que apaga
Que motiva
Que decepciona
Que corrompe
Que dói

Que mundo é esse
Que não me ama
Que não me quer
Que diz que sim
Mas que só me dá não

Que mundo é esse
Que eu tanto gosto
Que tanto me desgosta
Que tanto me fere
Que tanto prefere
A dor que faz

Que mundo é esse
Que tão belo me parece
Que tão lindo há de ser
Que tão misterioso
Tão formoso e jocoso
Aprendemos a conviver

Que mundo é esse
Que não é outro mundo
Que não se importa com o oriundo
Que não quer que eu vá
Que não quer que eu fique
Que não se importa
Mas que comporta
Todo meu sofrer

Que mundo é esse
Que tão belo
Mas tão cruel
Não deixa viva
Sequer uma esperança
No papel
No coração do menestrel
A viva chama
Do amor
Que é apagado
Com a dor
A dor de
Amar de novo
O novo mundo
Aquele que
De repente
Se apresenta para gente
Como uma nova chance
Como num relance
Um novo amor

Que mundo é esse
Que em sua vastidão
Tanto castiga
Tanto ensina
Mas tanto quer bem
O mal de alguém

Que mundo é esse
Que de tão perfeito
Acaba por ser eleito
O melhor mundo
Onde todos
Num segundo
Hão de viver
E amar
E sofrer
E um dia
Morrer...


Publicado originalmente no dia 13 de agosto de 2011, sábado.

Mítico


Salvo do tempo
salvo da morte
perdido na mente
à própria sorte.

Aclamado
e esquecido
lembrado
inquirido.

Buscou nos dias
levou a pergunta
buscou nas trevas
a coragem junta.

Atravessou eras
mudou o destino
sempre requisitado
como algo divino.

De várias terras
de vários nomes
são vastos anos
entre os homens.

O dia transcorre
a moléstia vem
há mortos de fome
não há mais ninguém.

É uma lenda
é um mito
pelos séculos
para o infinito.

Mas cuidado...

não falte com zelo
não desdenhe do perigo
não o escolha
como um inimigo.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Como produzir um texto

Decidi escrever sobre esse assunto no intuito de ajudar algumas pessoas que me perguntam como fazer isso. Não sou um exímio escritor, tampouco alguém com a bagagem necessária para tal desafio, mas, pelo pouco que conheço e estudo, creio que vou poder esclarecer algumas coisas. Vou tentar ser rápido e direto e fazer um texto sucinto e coerente. Vamos a ele:

  • Ler para escrever:

Parece bobagem dizer isso, mas quem lê muito escreve melhor! Verdade? Nem sempre. Ler bastante está diretamente ligado a escrever bem, mas o que acontece com frequência é que as pessoas leem despretensiosamente na maioria das vezes. Para aprendermos com a leitura precisamos de alguma atenção, como por exemplo: devemos reparar na estrutura do texto, como ele está escrito, como o autor expressa suas ideias, como a pontuação é utilizada, a forma correta do emprego das palavras, a ortografia, enfim, tudo que for necessário para se escrever melhor. Resumindo, não adianta só ler, mas aprender com o que se está lendo.

  •  Menos é mais:

Objetividade! Aprendi isso com muitos erros. Escrevia textos longos, sem muita (ou nenhuma) estrutura, com frases longas e até ininteligíveis. Às vezes ainda faço isso por pura distração ou empolgação. Textos com frases curtas ajudam no entendimento. Parágrafos curtos também são uma ótima ferramenta, pois deixam o texto mais limpo e menos cansativo. As ideias devem ser concisas, diretas e, de preferência, precisas. Temos de ficar atentos para conseguirmos transmitir o que queremos sem muitos rodeios.

  • O pai dos burros:

Esse era o nome que meu pai dava para o dicionário. Hoje, alguns dizem isso do Google também. Infelizmente, vejo isso acontecer o tempo todo: as pessoas, em sua maioria, não fazem mais o uso dessa ferramenta. E dicionário sempre foi - e continuará sendo - indispensável para se escrever bem. Agora mesmo estou com um desses dicionários online aberto em outra aba. O meu léxico físico tem o corte dianteiro tremendamente puído de tanto uso. Vou contar uma coisa que, juro, é verdade: não há um só dia que eu não olhe ao menos uma palavra nele. Não estou me vangloriando disso, estou é incentivando. Consultá-lo regularmente nos ajuda, não só a descobrir o significado das palavras e a forma correta de se grafá-las, como também a encontrar sinônimos para não ficarmos repetindo os vocábulos. Quanto mais fizermos uso do famoso "pai dos burros", mais aptos estaremos para escrevermos melhor.

  • Rascunho primeiro:

Acredito que essa seja uma das melhores dicas desse texto. Fazer anotações previas do assunto a ser tratado é "uma mão na roda". Escrever poucas palavras-chave - numa folha qualquer - ajuda a clarear as ideias e a montar um esquema com o quê deve ser abordado; com início, meio e fim. Anote também qualquer coisa que pensar quando fizer o seu rascunho para não perder aquela informação que poderá ser importante. Isso fará uma enorme diferença na hora de "botar a mão na massa".

  • Conclusão e revisão:

Não se esqueça de dar um fim para o seu texto, concluí-lo de forma justa. Tente sempre pontuar a ideia principal na conclusão, aqui é o lugar para se fazer isso. Tendo dito tudo aquilo que quis dizer, passe para a próxima fase: revise. Leia-o integralmente. Primeiro, faça uma leitura para saber se tudo está como desejou que estivesse; segundo, faça uma nova leitura, só que agora mais minuciosa, em busca de erros ortográficos, letras faltando ou sobrando, erros de concordância, pontuação e etc. É fundamental que revisemos o que escrevemos e, se possível for, pedirmos a ajuda de um outro leitor, um amigo disposto a "te dar uns toques".




O assunto é muito extenso e as dicas são inúmeras. Esse texto foi apenas uma pincelada inicial, pretendo fazer outros sobre o mesmo assunto a fim de continuar auxiliando aqueles que têm alguma dificuldade para produzi-los. Vou especular outros temas relacionados também, como gêneros e formas. Lembrando que esses são métodos que eu aplico para mim mesmo, coisas que, eu acredito, poderão te ajudar.