terça-feira, 31 de março de 2015

Como ler um livro até o fim

Bom, dando continuidade ao texto de ontem e aprofundando melhor essa questão, vou falar sobre esse assunto tão recorrente e que muitos acham impossível: terminar um livro. Parece que as pessoas desenvolveram um crença que diz que um livro não pode ser terminado ou que um livro deve ser postergado até o infinito. Digo isso por experiência própria, grande parte da minha adolescência foi assim, já cheguei a ler um mesmo livro por quase dois anos (absurdo!). Mas o quê é que faz isso se tornar uma constante na vida de muitas pessoas?

Como eu disse no texto anterior, precisamos desenvolver um hábito saudável de leitura. E agora acrescento mais uma palavra: um hábito saudável e contínuo de leitura. Sim! Ler, simplesmente, não faz de você um bom leitor. E, aqui no Brasil, somos considerados leitores medíocres. Não quero entrar em dados e pesquisas para provar isso, mas algo aqui precisa ser mudado. Para sermos considerados bons leitores, devemos ter um mínimo de funcionalidade, ou seja, ler e entender o que lemos. Precisamos de prática, de dedicação. Se alguém pega um livro por obrigação, por exemplo (como as leituras obrigatórias para concursos, escolas, graduações e etc.), é quase certo que esta leitura não será muito proveitosa, salvo aqueles que, como eu, amam ler e, ainda assim, podem se deparar com uma verdadeira leitura chata.

Para que você não abandone uma leitura recomendo alguns cuidados e também metas. 

Vamos supor que queremos ler um livro de quinhentas páginas. - antes de mais nada, lembrem-se das dicas anteriores; ler um livro do seu agrado (vamos deixar de lado as leituras obrigatórias por enquanto), ler frequentemente e não desistir, principalmente se o livro estiver muito bom - Para terminarmos um livro - de cabo a rabo, como diz o ditado popular - devemos estipular um prazo para terminá-lo. Uso aqui um detalhe: as bibliotecas, em sua maioria, emprestam seus volumes por quinze dias (duas semanas), renovados por mais quinze dias (ou seja, um mês). Supõe-se então que, ler um único livro, estenda-se por até um mês de leitura. É um prazo bastante razoável. Concordam? Pois então, vamos dividir o número de páginas pelo número de dias: 500/30, que dá uma média de 16.66 páginas por dia. Traduzindo, se você lê na média dos brasileiros, que é em torno de uma página a cada cinco minutos (a média, na verdade, está entre três e cinco minutos), você irá gastar um pouco mais de uma hora por dia para concluir um livro de quinhentas páginas em apenas um mês. Um total de doze livros por ano, fantástico, não?! Isso já tira você da zona de conforto e lhe traz mais conhecimento e cultura. Sem contar o fato de que, com o tempo, sua leitura melhorará e muito. Sendo assim, você conseguirá ler livros mais rapidamente. Quando pegamos o gosto pela coisa fica mais divertido e interessante, você passará a ler por mais tempo, o que aumentará o seu tempo hábil de leitura. 

Eu já contabilizei a minha média de páginas por hora várias vezes, mas os resultados sempre ficam diferentes. Isso acontece por causa do tipo de texto. Se é uma coisa muito densa, filosófica demais, técnica ao extremo e etc., a leitura fica mais carregada, embargada, arrastada e demorada. Quando o livro é mais suave a leitura sai fluida. Aconselho a começar com livros do tipo best-seller para acostumar com este hábito, pois, em sua maioria, são mais tranquilos de se ler. Claro que recomendo muito os clássicos, mas muitos deles são densos demais. 

Outra coisa que ajuda muito é criar uma rotina. Tenha em mente que você precisa terminar aquilo que começou. Faça disso um objetivo. Use sempre a lei da compensação (eu uso sempre), se você só conseguiu ler dez páginas num dia, leia vinte no próximo. 

Deixe a leitura para um momento tranquilo do dia. Livre-se de coisas que atrapalham você a ler (nada de eletrônicos por perto, exceto se você estiver lendo "eletronicamente", é claro). Não faça duas coisas ao mesmo tempo. Deixe o livro absorver sua mente para dentro dele e vice-versa.

Bom, o assunto é extenso e irei precisar de outros textos para falar sobre tudo. Mas, por enquanto, deixo essas dicas acima, fundamentais para você completar a leitura do seu livro. Inspire-se, deixe-se levar. Consiga!

O que não podemos fazer é cair sempre no mesmo erro, porque ler é imprescindível para o enriquecimento humano. Ler não é perda de tempo, saibam disso. Ler nunca será uma desvantagem. Para inspirá-los ainda mais, deixo abaixo dois links. Um, é uma matéria sobre um rapaz que consegue ler até 900 páginas por hora e, o outro, é o blog deste mesmo cidadão. Impressionante!

Matéria:

Blog:


Como ler mais e melhor

A priori, a melhor dica e a mais importante de todas é: pratique!

É um fato: as pessoas têm preguiça de ler! E, o pior de tudo, é que elas também se acomodaram com isso. Estão confortáveis com uma situação desastrosa. Não estou exagerando. Ler é fundamental para a vida, a maioria sabe disso, mas ninguém leva este fato muito a sério. Nosso país não é referência no quesito leitura e, infelizmente, acho que nunca será. O mundo está se desanalfabetizando. Ler é o melhor exercício para saber ler melhor e, também, para escrever melhor. Sem falar no enriquecimento pessoal que este hábito saudável vai lhe trazer.

Exemplo claro da falta de leitura, no mundo de hoje, está nas redes sociais, todas elas, sem exceção. Vejo zilhões de postagens, todos os dias, com a pior ortografia imaginada. Frases sem o menor sentido, com a maioria das palavras (para não dizer todas) escritas erroneamente, falta de pontuação, estrutura e concordância, entre tantas outras coisas de fundamental importância. E olha que muitas dessas pessoas possuem até um elevado nível de cultura e graduação. Por que estou dizendo isso? O que isso tem a ver com a leitura em si? Simples, o caminho mais fácil para se aprender a escrever bem é ler bem. Ler muito, ler bastante. 

Eu amo escrever e, quem me conhece bem, tem certeza disso. Amo ler também e, quem passa pelo meu dia a dia, também sabe disso. Fico dividido entre ler e escrever, sem saber qual eu gosto mais, mas prefiro dizer que gosto de ambos. Sou um aficionado pela nossa língua. Adoro estudar e pesquisar esse assunto. O livro que mais consulto é o dicionário, sem sombra de dúvidas. Recomendo que todos façam isso sempre e isso é mais uma dica.

Eu conheço muitas pessoas que afirmam veementemente que não gostam de ler. Outras discursam sobre a preguiça de ler um livro. Outras falam sobre a falta de tempo. São tantas as desculpas, que nem consigo enumerá-las. Mas, desculpas à parte, ler é praticamente um dever de todos nós. 

Minhas dicas aqui são para as pessoas que sabem ler e que, seja qual for o seu  motivo, não fazem isso com frequência ou quase nunca; mas que desejam tornar a leitura uma constante em suas vidas.

Como disse no topo do texto você deve praticar sua leitura. Para isso, deve deixar os empecilhos de lado e acostumar-se com este hábito. Aqui vão minhas recomendações:

1 - escolha o que quer ler - você deve começar pelas leituras que mais lhe agradam e nunca por coisas que lhe dão cansaço ou irritação. Não tente ler um clássico se você só gosta de best-sellers. Guarde-os para uma outra ocasião. Escolha os títulos que mais lhe chamam a atenção. Este é o primeiro passo.

2 - crie um hábito - não adianta nada ler trezentas páginas num único dia e só voltar a pegar o livro dali a duas ou três semanas. Sistemas assim não criam hábitos. Você precisa construir uma rotina, ou seja, ler todos os dias (Se preferir, escolha um ou dois dias para não ler). Se você não está acostumado a ler muito, comece com apenas dez páginas, ou um conto, ou uma crônica, ou um capítulo apenas, mas leia todos os dias ao menos um pouquinho. Separe meia hora do seu dia para fazer isso. Escolha um período do dia que mais lhe apeteça. Conheço pessoas que têm o costume de ler antes de dormir. Essas pessoas estão sempre lendo, mesmo que apenas um pouquinho por dia.

3 - não desista - parece bobagem dizer isso, mas muitos desistem sem ao menos conseguirem grandes passos. Aconselho a, por exemplo, trocar a leitura; se o livro escolhido está enfadonho, troque-o imediatamente (caso todos os que você tenha escolhidos estiverem assim o problema não é com os livros), vá para outro que lhe agrade mais. Termine uma leitura, principalmente se você está gostando dela. Não deixe duas páginas para o dia seguinte se a história está prendendo a sua atenção. Sempre termine um livro, isso é importante. Se em algum dia você não conseguiu ler por falta de tempo ou cansaço, tente ler um pouco mais no outro dia, use a lei da compensação. O importante é que você não se deixe levar pelo desânimo e continue sempre em frente.


Considerações finais:

Se ainda não ficou claro, vou transparecer, se você criar o hábito de ler, quanto mais você fizer isso, melhor será sua leitura e mais fácil será ler um livro ou texto. Seu vocabulário aumentará, seu conhecimento e sua "velocidade de compreensão" também.

Fiz essas sugestões no intuito de ajudar. Vou postar outros escritos nesse gênero para continuar o assunto (criei um novo marcador para designar este tipo de texto - aceito sugestões para o nome do marcador). Tenho aumentado muito o meu tempo de leitura e tenho um compromisso comigo mesmo de ler um livro por semana. Eu sempre tive o bom costume de ler, mas sempre exigi de mim mais leituras. Pretendo conquistar essa façanha gradualmente e, simultaneamente, compartilharei minhas experiências e aprendizados aqui no blog.

segunda-feira, 30 de março de 2015

2 (dois)




 Leia as duas partes anteriores a esse conto:  0 (zero) e 1 (um)



Voltei boquiaberto para o meu lugar. Desta vez, de frente para o homem. Prossegui em passos lentos. Sem olhar para o lado enquanto passava por ele. Coloquei meu livro sobre a mesa e fixei meu olhar neste objeto. Sentei-me ainda olhando para o livro. Pousei o chapéu ao meu lado, no banco. Senti meus lábios tremerem e mordisquei-os na intenção de para-los. Criei coragem e olhei para o estranho homem pela primeira vez. Fatos:

   - 1. Eu não olho ninguém diretamente nos olhos.

   - 2. Eu não sinto medo, mas naquele dia eu senti.

   - 3. Eu ainda sinto a falta dele, mas, quando chego em casa, sei que ele não mais voltará.

Seus olhos me fisgaram instantaneamente. Olhos estupendamente azuis. Azuis claros como o céu. Suavemente azuis. Olhar profundo, penetrante e ao mesmo tempo longínquo. Seu olhar tomava-me a alma. Senti meu corpo relaxar. Estava hipnotizado. Demorei-me minutos naqueles olhos. Por fim, lentamente, senti-me livre para olhar-lhe a face inteira. Era um rosto comum. Como o de todas as outras pessoas. Seus cabelos eram espessos, brancos, lisos, saiam aos montes pelos cantos do seu chapéu. Sobrancelhas grossas e desajeitadas num tom cinza, quase alvo. O rosto marcado pela idade, talvez sessenta, ou setenta, talvez até menos. A pele flácida de seu rosto fazia sulcos abaixo e nos cantos dos olhos. Olhava-me sereno, mas ao mesmo tempo sério. A boca possuía lábios finos, simples traços retos, e não esboçavam sentimentos. O queixo salpicado de grossos fios de barba por fazer, também com pelos brancos. Seu nariz era protuberante, mas não exagerado, apenas com contornos masculinos marcantes. Ele manteve o mesmo olhar até que eu terminasse de olhá-lo por completo. Eu terminei observando suas mãos postas sobre a mesa com os dedos entrelaçados.

   - 1. Invejei-lhe a bela face marcada pela idade sem, no entanto, demonstrar a perda da jovialidade. 

   - 2. Percebi que eu não tinha sido atendido até então. Queria café. Urgentemente. 

   - 3. Pela primeira vez, em mais de vinte anos, estava disposto a conversar com alguém.

"Você me surpreende." - disse-me.

"Como sabia dos livros? Quem é você?"

"Pressinto seus movimentos, mas, entretanto, você escolhe sempre outros. Interessante."

"Você ainda não me respondeu." - insisti sem sentir-me irritado, o que era peculiar para mim.

"As respostas estão nas entrelinhas. Você me fascina." - disse-me confessando uma admiração.

"Por favor, como sabia dos meus livros? Quem é você?" - senti-me implorando respostas.

Seus olhos se moviam avaliando-me. Sua boca fazia minúsculos movimentos quando falava. Mas seu corpo continuava estático.

   - 1. Estava preso ao meu intrigante desconhecido, mas queria muito pedir um café.

   - 2. Realmente sentia-me despreocupado e relaxado olhando seus olhos.

   - 3. Por mais que eu quisesse, não pediria um café naquele dia.

 "Sei de todos os seus dias desde que sentiu-se solitário. Lembra-se quando aconteceu isso pela primeira vez?"

"Sempre fui solitário" - respondi na defensiva - "Sua resposta só aumenta a minha curiosidade. Quem é você?"

"Não se apresse. Temos muito tempo. Quero surpreender-me mais com suas escolhas." - fez uma pausa nítida e prosseguiu em seguida - "Sou aquele que é ausente no começo e sou aquele que é presente no fim."

Falava-me enigmaticamente. Sentia verdade em suas palavras, mas não acreditava em sua existência. 

"Você não existe." - acusei-o.

"Magnífico!" - disse alto e movendo pela primeira vez suas mãos batendo uma palma sonora. "Você me excita. É fantástico." - e sorriu ao terminar a frase expondo seus dentes lineares e antigos.

"E você faz-me crer que és apenas um delírio." - soltei.

Ele sorriu mais largo e recostou-se em seu banco. Cruzou novamente os dedos e pousou as mãos sobre a mesa outra vez na mesma posição.

"Nesses mais de vinte anos, sequer um único dia, falhou em surpreender-me. Estava certo sobre você."

"Do que é que você está falando? Afinal, o que quer de mim?" - estranhamente, eu não perdia a paciência, pelo contrário, queria ir a fundo naquele mistério.

Alguns fatos sobre mim:

   - 1. Nos meus quase quarenta anos de vida adulta nunca deixei de tomar ao menos uma xícara de café.

   - 2. Meu corpo queria café mais do que eu queria respostas.

   - 3. O chapéu daquele homem era do mesmo modelo do meu.

"Eu fiz uma pergunta e você não respondeu. Quando foi que começou a sentir-se solitário? Mas agora diga a verdade." - acusou-me.

Eu sempre fui só. Fui filho único. Meu pai morreu cedo. Minha mãe também. Fui criado por minha tia, mas vivia isolado. Deprimido. Estudei, formei, trabalhei, tudo isso sempre sozinho. A vida inteira fui uma pessoa solitária. Exceto naqueles meus três anos mais felizes, quando o conheci... Mas... ele também se foi...

"Quando voltei a sentir-me só novamente..." - respondi com muito pesar. 

"As pessoas nunca são solitárias antes de perderem uma real companhia. Antes de sua perda, sua verdadeira perda, você não conhecia a real solidão. Agora você a conhece. E, desde este dia, eu o conheço."

Fiquei confuso. Meu companheiro tinha muitos amigos, poucos deles foram despedir-se e, este homem não estava entre eles.

"Você não estava lá, eu lembraria-me." - afirmei.

"Estou ficando entediado. Suas dúvidas às vezes me cansam."

Olhei-o ressentido. 

Súbito, uma vontade latente veio-me à mente e desviei meus olhos do estranho. Olhei para o balcão daquele estabelecimento e pedi à atendente: "Um café, por favor!"

"Surpreendente!!!" - exclamou a voz do desconhecido nitidamente excitada, assustando-me de tão volumosa.

Virei-me de volta para o estranho, mas não havia ninguém ali. Somente o reverberar de suas gargalhadas.


continua...         Leia a continuação deste conto: 3 (três)


 

sábado, 28 de março de 2015

Laço

É um bom trabalho
difícil, mas divertido
por metros separados
ruído e alarido

É mais um trabalho
trabalho em conjunto
te vejo do outro lado
aqui deste meu mundo

Na cabeça tem um laço
é rosa e com bolinhas
gira em grandes voltas
entre reis e rainhas

Servimos a toda gente
rápidos e bem dispostos
almejamos o fim da festa
para voltarmos recompostos

Mas naquele vai e vem
de gente, gente sem fim
procuro por um laço
que de longe sorri para mim

E no termino dessa turba
vitorioso e até honrado
volto para o lar cansado

feliz de ter o laço ao meu lado

sexta-feira, 27 de março de 2015

O mosquito, os pernilongos e a raquete!

Então Noé pegou um animal de cada espécie e colocou dentro da arca antes que o dilúvio assolasse toda a face da terra...

Mas precisava colocar pernilongo e mosquito também, pô?

Não sei quanto a vocês, mas uma coisa anda me incomodando muito hoje em dia, o fato de todas as horas eu ser perturbado por um desses dois indivíduos. 

Mosquito:

Acredito que esse inseto foi criado para testar-nos a paciência. O maior espaço dentro de todas as casas é o espaço livre, ok?! Sim!!! Entre o teto e o chão existem quilômetros (na perspectiva do bichinho) e mais quilômetros de área de manobra, onde o dito cujo pode muito bem fazer todas as suas manobras radicais, seus loops, acrobacias e demais necessidades, correto?! Deve haver comida suficiente para todos nós dentro do mesmo ambiente (acredito que uma gota de refrigerante seja o suficiente para dúzias deles). Agora, por que é que esse sujeitinho faz questão de voar (em rasantes constantes) bem na nossa cara??? O que foi que eu fiz para família desse camarada nas gerações passadas para ele querer pousar no meu braço ou qualquer lugar do meu corpo? (ou nas encarnações passadas talvez eu tenha sido um dedetizador, vai saber) Sou doce demais? Tenho o aspecto e a consistência de fezes? (eu tomo banho todos os dias, não me julguem) Pareço um delicioso torrão de açúcar? Sou mais apetitoso do que um pedaço de bolo? O que foi que eu fiz para você, meu rapaz?! E, não bastasse sua insistência em estar sempre incomodando, ele faz questão de fazer isso nas piores horas possíveis (principalmente quando estou tocando, lendo, escrevendo ou comendo). Devo ter sincronizado meu relógio biológico com o dele para termos as mesmas necessidades no mesmo instante. Talvez então, ele aprecie música, literatura (um mosquito erudito?) e também meus lanches. Será que o bichinho está tentando me ensinar a escrever? (talvez ele queira o nome dele publicado neste texto) Aí aparece alguém dizendo que é a época, ou quem sabe a região que eu moro. Se for esse o caso, eu devo morar num lixão (dentro deste lugar e não somente nas redondezas),  e se for questão de época, aqui em casa existem somente duas épocas no ano: A com muito mosquito e a com pouco mosquito, mas todos os dias eles passam por aqui, sem faltas. É, é um exagero meu, coisa da minha cabeça, implicância minha, eles têm uma função na natureza e, a meu ver, a função desses "coisas" é estarem mortos!

Pernilongo:

Coisinhas incríveis, esses danadinhos (do inferno)! Assim como os mosquitos, os pernilongos têm a preferência de vagarem sem um plano adequado de voo. Mesmo que possam sobrevoar qualquer lugar dentro da sua casa (isso sem contar que existe um amplo espaço externo também: a cidade inteira), o preferido espaço dessas pragas é na sua cara mesmo (mais precisamente o nossos ouvidos). Eles têm uma característica adorável que é tentar chupar todo o seu sangue a qualquer hora e em qualquer cômodo. Ao contrário dos mosquitos, os pernilongos preferem praticar o que eu chamo de: incômodo noturno (que se estende a qualquer hora do dia que você adormeça). São criaturinhas sutis e malvadas, preferem suas vítimas relaxadas, inconscientes, desprevenidas, ou seja, são equivalentes aos estupradores. Sim, essas bestinhas fazem questão de aproveitarem de você na sua hora de maior vulnerabilidade. E não para por aí. Aqui em casa eu tenho alguns desses camaradas que estão sempre atentos. Por exemplo: é eu pegar minha guitarra e, dois minutos depois de começar a tocar, e minha perna já está toda picada e coçando. Sim, já pensei em vestir calças para começar a praticar meu instrumento dentro do conforto do meu lar, mas não admito perder a minha liberdade para um vampirinho voador qualquer. Agora mesmo, enquanto digito meu texto, tenho que parar de frase em frase para coçar minhas pernas. Outro fator interessante sobre essas praguinhas é que eles, indubitavelmente, não estão sozinhos. São praticamente uma gangue, preparada para dominar o bairro (entenda-se: quarto). Embora eu seja um defensor declarado dos bichos, estes canalhas sugadores não estão entre os meus protegidos e minhas paredes estão repletas de seus corpos. E não basta manchar minhas paredes com seus corpinhos frágeis (mas detestáveis), eles pintam-na de vermelho do meu próprio sangue. Bom, era assim até eu finalmente optar por um hábito muito saudável...

Raquete:

Torrar insetos agora passou a ser um esporte. Praticamente todos os dias tiro um tempinho para essa prática salutar. Sim, eu comprei uma dessas raquetes vendidas em quase todos os semáforos da cidade (comprei a minha nas Lojas Americanas, bem mais barato, fica a dica) e a uso com demasiada frequência. Não sei como esse dispositivo funciona, mas para mim, funciona assim: Você aperta um botão (e fica segurando), direciona a tela da raquete para um alvo significativo, ao entrar em contato com o alvo a tela prende o indivíduo e o atordoa. Daí você tem a opção de deixar o diabinho à própria sorte, mas eu prefiro continuar segurando o botão até ver a fumacinha saindo de seu cadáver. (Para pernilongos cheios do seu sangue é uma satisfação enorme.) Pronto, a última etapa deste esporte consiste na sua alegria, felicidade e desejo de vingança saciado. E se você duvida de mim, eu recomendo, pois é uma terapia inigualável. Se você se deixar levar, passa horas caçando os monstrinhos (eu já desmantelei gangues inteiras com a minha). O único problema é que a pilha descarrega depois de algum tempo (ou você pode acidentalmente destroçar a arma na sua busca por vingança). Eu recomendo sempre ter uma ao alcance. Compre pilhas extras, compre aquelas raquetes que recarregam na tomada, mas não fique sem uma por perto, pois se tem uma coisa que nunca acaba são esses miseráveis importunadores.

 Parece demasiado da minha parte falar desses seres tão insignificantes... Na verdade, não tão insignificantes, afinal, dediquei-lhes até um texto!

quinta-feira, 26 de março de 2015

Sem fim (revisão)

Este foi o último texto publicado no meu antigo blog, um simples verso, mas, lendo-o agora, pareceu-me uma despedida. Por quase três anos sem postar - uma linha sequer - nesse mundo "blogueano", acredito que esse tenha sido um fim para um novo começo. Muitos outros versos e histórias vieram depois, mas este aqui deixou um gostinho de adeus...



Sou o calor de tudo isso,
Sou o homem na estrada
Estou a passos daqui
Estou em vasta jornada

Cá entre os homens perdidos
Nada temo aquilo que vem
Se por ordem de descabidos
Nada sofro daquilo que tem

Caminho em trôpego passo
Embaralhado no teor de mistério
Envolto em tempo de encontrar
Algo que me faça mais sério

Tento por vezes a morte driblar
Se ainda caminho é porque quero
Sendo assim não posso falhar
Preciso viver e encontrar o qu’espero

Não lembro bem o começo
Não me atrevo a desistir
Se por um acaso enalteço
É por que um dia hei de sentir

A minh’esperança não morre
Embora falhe, não há de partir
Meu coração pulsa mais forte
Ainda não sei ao certo onde ir

Quando outro dia amanhece
Tento por vezes me lembrar
Que perder outro dia não posso
Pensar em fugir ou desesperar

Sou aquilo que entendo
Embora muito incompreendido
Sou aquilo que tento
Embora falhe e já tenha caído

Sou homem como muitos outros
Temo por meus dias infundados
Sou tão cheio de amor e dor
Por tempos longínquos furtados

Outra vez me posto a escrever
Tentando meu interior refletir
Fácil não é desvelar ou subverter
Com palavras vou tentando exprimir

Sou a dor da busca estendida
Ainda existe em mim calma
Se por tempos não vejo saídaSou o ardor dessa minh’alma

Rogo por um dia encontrar
Algo que possa me satisfazer
Sentar-me brando à leitura
Doutro livro que tenha de ler

A bem da verdade, isso não nego
São páginas malditas que m’inquietam
Em cada palavra encontro um dilema
São essas verdades que me desassossegam

Hoje, mais um dia qualquer
Outra trilha começa sem fim
Proponho uma nova empreitada
Outra busca à procura de mim

Sou então aquele conformado
O homem cansado mas persistente
Sou então aquele angustiado
O homem de procura inerente

Sou o que sou e nada além disso
Sou aquele que parte, porém volta
Sou o homem abrutalhado, indeciso
Sou o projeto de sábio sem resposta

Sei que nada sei e continuo assim
Não busco além do que posso e quero
Embora sempre saiba dentro de mim
Que aquilo que quero e espero
Nunca vai ter um fim


Publicado originalmente no dia 3 de janeiro de 2012, Terça-feira.

quarta-feira, 25 de março de 2015

Entrevista (Parte II) (revisão)


E continuando aquele conto/reflexão que postei há pouco:


- Mas, me diga, o que o aflige?

- Bom, pra começar, não paro de pensar no “conhecer-se”... está se tornando um hábito... estou... estou... preocupado, talvez.

- Hum – exclamou o entrevistador – mas por que pensa tanto nisso?

- Veja – disse interrompendo o outro – toda religião faz esse discurso, todo mestre prega a mesma filosofia, todo livro de autoajuda tem um capítulo sobre o assunto, todo ser humano cita esta frase numa conversa... mas por que diabos as pessoas não se movem na direção deste conhecimento?

- Olha, tal...

- Não entendo o motivo de tanta hipocrisia, como um assunto pode ser tão disseminado e nunca ser absorvido. O que mais ouço nas ruas e das pessoas que eu conheço é “eu sei, eu sei...”, mas se realmente soubessem não perderiam mais tempo com nada na vida a não ser o conhecimento de si mesmas.

O entrevistador ficou de cabeça baixa, pensativo, sem contudo perder a fisionomia de intelectual sabido. Segurava o queixo com a mão esquerda e o bloco de perguntas com a direita. O entrevistado estava deitado numa espécie de divã, que na verdade era a sua cama, onde tinha a maioria de suas reflexões. Ficaram calados por alguns minutos e por fim continuaram.

- Quer me dizer por que é que você acha que as pessoas têm que se conhecer, por que é que você pensa que alguém quer isso para própria vida?

Riu com escárnio, fortemente, debochou da pergunta, mas mesmo assim respondeu.

- E por que não?! – exaltando o absurdo – Se todos só falam nisso, por qual motivo não iriam praticar o que acreditam? Por que é que...

- Pare de bancar o tolo – disse em bom som o entrevistador – quem você conhece que pratica o que prega? Quem é que dá atenção a isso? Quem se importa ou não em se conhecer?

As palavras reverberavam pela sala (quarto) até atingirem o nada. Os dois permaneceram em silêncio por, talvez, horas. As sombras da tarde tomavam as luzes da janela. O silêncio se partiu.

- É um caminho de solidão. Sempre ouvi isso também – disse o entrevistado – sempre soube e venho me acostumando cada dia mais. Quando estou escrevendo, quando realmente estou escrevendo, me sinto confortável na presença da solidão. Bem da verdade a prefiro. – levou os braços para trás, entrelaçou os dedos e colocou as mãos por sob a cabeça – Começo a entender o que realmente me importa. Não sinto medo, receio talvez, um pouco de dúvida, mas não penso em voltar atrás.

- Só se sente assim quando escreve?

- Não mais, às vezes quando estou caminhando, lendo, conversando, ouvindo música... eu estou lá em uma tarefa, daí eu começo a prestar atenção... é, é essa a palavra: atenção. Começo a prestar atenção na minha respiração e percebo o quê de fato estou fazendo. Quando acontece isso eu não consigo mais agir normalmente, sabe? Eu começo a me questionar sobre o que está acontecendo ali, naquele instante. Ouço o ruído do ar perpassando minhas narinas e concentro nisso e, se alguma outra coisa acontece à minha volta ou alguém fala comigo, é como se isso não mais importasse. Ali, naquele instante, o que vale é a intensidade com que eu entendo o momento. Penso muito nisso, parece que nada existe, sabe?

Não ouviu resposta. Olhou para trás onde estava, outrora, o entrevistador. Nada mais estava ali além de si mesmo. E, mesmo achando estranho, não se incomodou. Já não era a primeira vez, não seria a última. 


Publicado originalmente no dia 2 de julho de 2010, Sexta-feira.


A vontade de nos conhecermos sempre esteve em alta, ao menos para aqueles que se dedicam ou se importam. Ainda vejo muitos buscando o autoconhecimento externamente, nunca em si mesmos. Parar, respirar, refletir, está se tornando um privilégio de poucos. As religiões e alguns falsos gurus continuam disseminando essa necessidade, reivindicando - para si próprios - a luz e o caminho, como se eles fossem a solução para a tal "salvação". Não se iludam, a verdade não está lá fora - como diria Chris Carter - está num lugar muito mais fácil de se acessar e bem mais profundo. Outorgar o seu autoconhecimento para terceiros debilita a sua capacidade de ser por si mesmo. Não acreditem nos falsos profetas. Só você pode conhecer a si mesmo, ninguém pode te conhecer por você. Respire...

terça-feira, 24 de março de 2015

1 (um)




Esse conto é uma continuação deste aqui:  0 (Zero)

 


Meus dedos tremiam involuntariamente, como varas bambas, tamanho era o meu nervo. Pensei em dar meia-volta, mas não sou o tipo de pessoa que abandona uma rotina assim. Eu precisava de uma solução imediata antes que eu entrasse em pânico. Fatos, eu precisava de mais fatos.

   - 1. O homem esperava-me, eu tinha certeza, pois estava na minha mesa, pronto para falar comigo.
  - 2. Eu não queria falar com ele e nem com ninguém. Eu queria ler e todos ali naquele lugar estavam cansados de saber disso.
   - 3. Ninguém, além de mim e dos funcionários, passava a madrugada inteira naquele lugar. Não sem fazer nada. Os funcionários trabalhavam e eu lia.


Não, eu não gosto disso. Aquilo irritou-me muito. Tinha três opções: um, eu deixaria de ler naquele dia - pois só podia ler ali; dois, eu sentaria em minha mesa e começaria minha leitura ignorando completamente o fato de alguém estar no meu lugar - MEU lugar; três, eu forçaria a minha vida a uma mudança e sentaria num lugar diferente.

Gastei um tempo pensando nisso, mas escolhi a terceira opção. Fui até quase o meu lugar, evitando fazer qualquer barulho, e sentei-me uma mesa antes, de costas para o sujeito atrás de mim. Era melhor uma pequena mudança do que duas grandes.
Eu suava, copiosamente, mas não retirei o casaco, somente o chapéu. Coloquei-o sobre o banco do meu lado direito, como sempre fazia, mas não era a mesma coisa. Aquele assento não pertencia-me, o da mesa de trás, sim. Meu chapéu, assim como eu, não gostou daquele lugar - senti isso.
Pensei sobre todas as leis existentes, busquei em minha memória algo que pudesse fazer para recuperar o que era meu por direito. Eu pensava sobre isso quando uma voz raspada interrompeu-me.

"Achei que você leria assim que sentasse. Estou surpreso." - disse a voz atrás de mim.

Quanto atrevimento. Só podia ser brincadeira. Alguém devia ter contratado esse fulano para incomodar-me. Não havia explicação melhor. Não pensei num motivo lógico para alguém querer falar com outra pessoa sem conhecê-la, sem motivos, sem necessidade de atendimento. Onde estava a lógica? - perguntei-me. Os fatos me acalmaram.


    - 1. Ninguém continua uma conversa quando não há uma resposta.

   - 2. Era dia da rabugenta peituda assumir a cozinha, logo não precisaria fazer pedidos, só comer meus biscoitos.

   - 3. Quem precisa de café todas as noites?


Eu precisava. Já estava sentado naquele lugar extremamente desconfortável, não abriria mão também do meu café. Aquele sujeito tinha que sair dali. Só precisava aguentar mais um pouco. Peguei meu livro no bolso do casaco e o abri onde estava marcado.

"Ora! Vamos! Você pode mais do que isso. Se não for hoje, será amanhã. Quer prolongar isso por mais quanto tempo?"

Aquela voz raspada arranhou-me os ouvidos. Olhei para o lado e usei minha visão periférica para vê-lo ainda sentado de costas para mim. Estava vigiando meus passos. Como?, eu não sabia. Mas eu não cederia, ele é que procurasse alguém para falar. Os fatos não mentem.


   - 1. Não gosto do som de minha voz, por isso prefiro ficar calado o máximo que puder.

   - 2. Palavras escritas são silenciosas. Até mesmo quando o escrito representa som e barulho.

   - 3. Ele não desistiria, nem eu!


Corri meus olhos para o parágrafo. Adentrei à história. Ignorei desconforto, irritação, sons, ruídos, aquele assento repuxando minhas nádegas em lugares diferentes do habitual. Sou centrado. Sou melhor do que as outras pessoas, disso tenho certeza. Silêncio e livros - só disso que preciso para viver. Ah!, café, biscoitos, e meu prato predileto também.

"É provável, corrija-me se eu estiver errado, que eu tenha mais tempo de sobra do que você."

Fitei com mais atenção as palavras horizontais que corriam da esquerda para direita e de cima para baixo.

"Sei que sua curiosidade é maior do que o medo de quebrar uma rotina."

Palavras atrás de palavras, os livros caminhavam sempre da mesma forma - assim como eu.

"Você devia estar agradecido por eu conceder-lhe esta conversa."

Uma letra junta-se com outra e as palavras vêm surgindo.

"Não vou a lugar algum..."

Linha de cima, linha de baixo, a de baixo, a de baixo. Palavra por palavra.

"Se existe uma coisa que me resta é tempo."

Fim da linha, linha de baixo. Fim da linha, linha de baixo. Fim da linha, linha de baixo.

"Os livros vão continuar lá e eu aqui."

Viro uma folha, sigo uma linha, desço para a próxima, mudo de página.

"Nem tudo é o que parece ser, nem mesmo eu."

Outra folha virada. Mais uma linha, outra, outra, outra. Novo parágrafo.

"Rotina é o que mais nos prende ao tempo."

Linha, linha, linha, linha, parágrafo, linha, linha, linha...

"Ops! Você saltou para a linha errada, confira."

"CHEGA!!!" - gritei levantando-me e virando-me para a mesa de trás.

Notei que atraí muitos olhares. Respirei fundo. Tornei a sentar-me. Peguei o livro solto na mesa. Corri os olhos pela página. Encontrei onde estava e vi: eu havia pulado uma linha.

"Como?" - perguntei, torcendo-me no assento para olhar para trás.

"Tudo possui uma resposta, mas nem todas as respostas explicam tudo."

"Eu não quero conversa, apenas a explicação." - disse eu, já ultrapassando meus limites de um diálogo.

"A explicação vem com uma conversa, como está fazendo agora. Não quer tomar o seu assento rotineiro?"

Bufei irritado.

"Como sabia sobre a linha?"

"Eu sei de tudo. Bom, quase tudo, não consigo prever suas decisões, mas sei que as quer tomar."

"Essa mesa é minha!"

"Eu sei. Tome-a de volta. Sente-se aqui."

Em momento algum ele se virou para falar comigo. Não que eu fizesse questão. Mas a irritação tomou conta de mim. Agarrei o livro e meu chapéu com força e levantei, pronto para ir embora e quebrar meus mais de vinte anos de rotina.

"Sete mil, quatrocentos e doze. Com este aí serão sete mil, quatrocentos e treze."

Minhas pernas bambearam. Sentei-me, perplexo. Os fatos não ajudariam muito agora.


   - 1. O beberrão discute todas as noites com a velha chata. Acredito que é uma tia ou algum parente menos importante. Mas os dois gritam sem parar. A mulher atraente chega todos os dias quando estou quase saindo de meu apartamento. Seria uma linda mulher não fosse o cheiro insuportável daquele perfume acre que se espalha por todo nosso andar. E, ele, está sempre me olhando com aqueles olhos fúlgidos, ruidosos demais para uma fotografia.

   - 2. Desde sua morte eu sigo a mesma rotina. Fazíamos isso juntos: ler. Agora faço só. Desde então guardo todos os livros, empilhados desajeitadamente em inúmeras colunas por todos os cômodos. Lembro-me de todos os títulos de cabeça e os conto mentalmente.

   - 3. Nesses mais de vinte anos, desde que comecei essa rotina, eu li exatamente 7.412 livros.



Continua...         leia a continuação: 2 (dois)



 

segunda-feira, 23 de março de 2015

O prazer de ler - Heloísa Seixas - Editora Casa da Palavra

Presente maravilhosamente prazeroso!

Esse é o tipo de presente que supera as expectativas.  

Primeiro falarei de como o livro veio parar em minhas mãos, depois descreverei o imenso prazer e inspiração que ele me deu.

Estava eu e minha amada visitando uma livraria enquanto aguardávamos a exibição do filme "Relatos Selvagens" num cinema cult daqui de Belo Horizonte (há umas três semanas) e, entre tantos volumes interessantes, esse se destacou aos olhos de minha companheira. Animadamente ela o mostrou e eu despretensiosamente o folheei. Gostei de algumas coisas, mas logo passei para o próximo título que me chamava a atenção sem dar muita importância. Eu não pretendia comprar nenhum daqueles livros naquele dia, meu objetivo era o filme somente. Mas - para minha futura alegria - para ela não era o suficiente apenas saber da existência daquele volume. Ela consultou o preço com a caixa do estabelecimento e disse que voltaria após a sessão para comprá-lo. Fomos para o filme e pronto. Achei que, talvez, ela nem se lembraria de voltar à loja, mas assim o fez assim que saímos do cinema. Fui atender uma ligação e fiquei esperando do lado de fora enquanto ela efetuava a compra. Quando saiu da livraria, toda sorridente, estendeu-me uma sacolinha de papel e deu-me o tal livro de presente. Grata surpresa! 

Duas coisas sobre isso: primeiro, a dedicatória era mais importante que o próprio livro; segundo, foi o primeiro livro que ela me deu em mais de dois anos de namoro. E, confesso, valeu a pena todos esses anos para me presentear com uma coisa tão significativa. 

Volto a dizer, amo livros, isso é mais do que óbvio, mas nem sequer fazia ideia do que estava por vir. Naquela primeira semana ainda estava terminando o livro anterior, mas coloquei-o na fila de leitura - na frente de todos os outros -, porque não podia deixar para depois uma representação de carinho tão grande. Na semana seguinte, corri os olhos por suas páginas quando chegou a sua vez e até fiquei interessado, mas empolgado e enaltecido fiquei quando o li. Gosto de livros que falam de livros e este aqui é exatamente sobre isso: livros e o amor de sua autora por eles. Tudo muito sucinto e objetivo, belamente escrito e apaixonante. Gostei tanto que alonguei sua leitura para não terminá-lo de imediato (o livro tem somente 78 páginas) e mesmo assim o terminei em dois dias (para minha tristeza, pois este é o tipo de assunto que quero ler indefinidamente).

Heloísa conta suas experiências com livros; como começou sua paixão por eles, sua dedicação em lê-los, seu amor pelas histórias e pelos autores, o seus livros favoritos, os seus gêneros prediletos, recomenda muitas leituras, fala de bibliotecas (criei imagens mentais da biblioteca da Universidade de Salamanca, na Espanha e da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro sem ao menos conhecê-las), descreve seu gosto por livros velhos e empoeirados dos diversos sebos que visitou pelo mundo (aqui ela cita o nosso querido e amado edifício Maleta) e - a melhor parte - ela faz uma lista de livros que levaria para uma ilha deserta (sensacional).

O prazer de ler é um livro de rápida e deliciosa leitura. Adorei lê-lo e o deixarei sempre por perto para futuras consultas, pois lerei vários dos títulos que ela recomenda. Muitos dos títulos abordados eu até já conhecia e uma boa parte eu já li. Prometo que vou deixar meu preconceito de lado e vou ler as autoras mencionadas, mesmo tendo um monte de ressalvas a fazer sobre estas leituras. Claro que também vou ler alguns dos livros da autora, pois "meu santo bateu com o dela!". Curti demais e recomendo mais do que bastante.

Ainda não disse nada sobre a inspiração que o livro me trouxe. Vou citar então algumas delas: ler e escrever estão diretamente ligados e Heloísa confirmou isso (coisas assim me fazer querer escrever sempre mais); preciso dedicar-me mais à leitura em sua língua de origem (coisa que nunca tentei, mas sempre quis); lerei mais clássicos durante o ano, tentando equilibrar as coisas entre o cânone literário e blockbusters; fiquei tentado a explorar gêneros que não eram de meu agrado.

Quero acrescentar uma coisa a respeito do que está no livro sobre o porquê dos brasileiros (principalmente crianças) lerem tão pouco. Heloísa cita a escritora Ana Maria Machado que comenta ser porque os professores não têm tempo de leitura por conta de trabalho e deslocamento no meio urbano. O que entendi é que a acima citada escritora atribui a falta de hábito de leitura à escola. Eu discordo, pois o meu hábito de leitura (e também da Heloísa) foram construídos dentro de casa. A escola segue somente um protocolo de adicionar livros aos estudos, mas o gosto de ler vêm mais dos pais do que de outro lugar. Se a casa não possui livros fica difícil de uma criança amá-los.


Sobre a autora:

Heloísa é natural do Rio de Janeiro e, além de escritora, é também tradutora e colunista, formada em Jornalismo. Para não fazer uma lista de todas as suas obras e feitos, vou deixar aqui o link para o seu site que contém muitos textos divertidos também: http://heloisaseixas.com.br/


Heloísa Seixas. Foto tirada do site: http://www.ufal.edu.br

0 (zero)




Eis aqui o marco inicial de minha história. Por que eu escolhi este dia?, essa parte do meu relato?, realmente não sei explicar. Apenas escutem-me, pois o que vou contar chegou a surpreender-me... surpreender, não, chegou a chocar-me, na verdade, fiquei estarrecido com a descoberta. Mas não quero adiantar-me demais, melhor eu começar com fatos.


     - 1. Eu gosto de passar as noites lendo, sentado na última mesa, no canto mais esquecido desse bar/restaurante/lanchonete vinte e quatro horas.

       - 2. As pessoas ignoram-me e eu faço o mesmo por elas. Não sou sociável e minha companhia está nos livros que me seguem todas as noites. Gosto mesmo é de um bom café e do meu prato predileto daquele lugar.

       - 3. Não costumo conversar com ninguém enquanto leio e raramente olho para além das páginas diante de meus olhos.


Fatos extraordinários, alguém diria. Não, são somente fatos. Vocês vão me entender.

Alguém já perguntou-me por que eu não lia em casa ou numa biblioteca, ou mesmo um lugar mais sossegado, mas isso também estará em minhas explicações. Só não posso deixar de dividir o que eu sei antes que eu não volte mais aqui para contar.

Aquele beberrão, a velha chata, a mulher atraente e insuportável e ele, são o motivo de eu preferir vir ler aqui. Logo retomarei as histórias dessas pessoas. Agora elas são irrelevantes.

A comida aqui é excelente e chegar ao prato ideal foi difícil, mas, depois de muitos anos como cliente, consegui decidir-me por essa refeição que hoje leva o meu nome. Não que os funcionários saibam meu nome, mas eu sei que este prato se chama assim. Mas só degusto este delicioso prato quando o rapaz de barba engraçada está cozinhando, se é a rabugenta peituda ou o sovina do seu marido que estão no comando eu prefiro comer os biscoitinhos que estão no meu bolso - que trago por precaução - e servir-me apenas de café.

Começo um livro novo todos os dias. Inicio a leitura assim que saio de casa, lá pelo fim da tarde. Leio por todo caminho. Venho para a minha mesa e faço os meus pedidos. Fico aqui lendo, regado a café, até terminá-los. Alguns eu finalizo antes do nascer do sol, outros só no fim da tarde. Depende. Só então vou para casa e volto no dia seguinte com outro volume.

No começo estranhavam-me e cochichavam a meu respeito, com o tempo a rotina os acalmou e passei a ser parte do ambiente. Praticamente invisível - como gosto de ser. Ler é melhor do que conversar.
Depois falo mais de mim, agora vamos a mais alguns fatos.


       - 1. Não gosto de doces, ela sabe disso, mas continua oferecendo-me as malditas sobremesas.

       - 2. Não gosto de ser interrompido além do necessário, sou focado no que me agrada e nada mais.

       - 3. Estou sempre de casaco, mesmo no calor, não gosto da cor dos meus braços.


A primeira vez que reparei sua presença foi no fim de um dia longo, quando terminava uma difícil leitura. Apanhei meu chapéu, o volume em questão, e deixei o dinheiro sob o pires. Já era manhã e a luz do sol começava a escorregar para dentro do salão de mesas. O homem mais perto da entrada estava de costas, mas acenou com a mão esquerda quando passei por ele, como se despedisse de mim. Não se incomodou em olhar para mim, apenas acenou.

Alguém vai dizer que ele podia estar chamando um atendente ou cumprimentando alguém, mas eu sei que não era esse o caso. O aceno foi para mim. Tenho certeza. Apresento mais fatos.


       - 1. O piso é branco demais e a luz refletida nele é de doer os olhos.

       - 2. Por mais que alguém ame café é impossível apreciar a mesma xícara por uma madrugada inteira.

       - 3. Um cavalheiro nunca senta-se à mesa sem retirar seu chapéu.



Se ainda não estão convencidos do que eu digo, acompanhem meus pensamentos.

Ninguém gosta de ser cumprimentado por alguém que não conhece. Eu não gosto.

No dia seguinte a este, ele me cumprimentou assim que entrei no estabelecimento. Audácia. Só podia ser alguém querendo me perturbar, mas sou focado, fui para meu canto e continuei com minha leitura até a última página. Só desviei meus olhos das páginas amareladas quando levantei-me para sair.

Peguei meu chapéu e meu livro, pus o dinheiro debaixo do pires e saí sem olhar para trás.

Ao passar pelo sujeito - que ainda estava lá - além do aceno do dia anterior me cumprimentou com um "até logo".

Não gostei nem um pouco, saí indignado, furioso.

Pensei em não voltar mais naquele lugar tamanha a falta de respeito daquele homem. Isso não se faz, não mesmo.

Mas, ao levantar no dia seguinte, revivi os dias de sofrimento para encontrar um lugar tranquilo para ler e deixei de lado a questão. Se ele dirigisse-me a palavra mais uma vez eu o ignoraria com classe.

Caminhei no dia seguinte para meu recanto de entretenimento, confiante de que nada me incomodaria dali por diante. Mas eu estava errado. E vou apresentar mais fatos.

       - 1. Gosto de caminhar à noite, pois menos pessoas significa menos barulho.

       - 2. O fundo do salão daquele bar/restaurante/lanchonete vinte e quatro horas era meu por direito e todos lá sabiam disso. Eu pagava comida por ele.

       - 3. O sujeito estava sentado na minha mesa, de frente para meu assento, esperando para falar comigo no terceiro dia.

Petulante.



continua...               leia a continuação: 1 (Um)


sábado, 21 de março de 2015

A moda da academia

Queria não falar disso, um assunto tão particular de cada um, mas nesses últimos tempos tenho reparado numa coisa em comum entre todos os "praticantes" desta modalidade. Não faço a menor ideia de quem começou ou evoluiu essa moda, mas, acreditem ou não, ela existe e alista cada vez mais asseclas. Se vocês estavam pensando que eu me referia a prática em si estão enganados, estou me referindo aqui ao vestuário e costumes destes "ratinhos de laboratório". Antes que alguém me acuse de ser um "anti academia" quero me defender dizendo que sou e sempre serei favorável a qualquer tipo de exercício físico. Corpo e mente andam juntos e são indispensáveis para uma vida saudável. 

Bom, mas vamos lá, o que anda acontecendo com o mundo de hoje para que academia seja significado de desfile de moda cafona e salão de entretenimento? Por que é que as pessoas hoje preferem "malhar" a se exercitar? Existe diferença? A meu ver, sim. Quando em minha adolescência, eu frequentava uma academia (na verdade já frequentei três) e, naquela época, esse ambiente era um lugar centrado, onde todos os praticantes sentiam-se focados no que estavam fazendo, enrijecendo seus músculos e tonificando seu corpo em silêncio. Um som leve e descontraído no fundo, bem baixinho, uma cama de fundo para os sons de respiração, gemidos de esforço, o sempre presente "plim, plim, plim" dos halteres e anilhas se chocando. Conversávamos também, mas sempre depois dos treinos e, raras exceções, durante, mas uns incentivando os outros. Eram conversas curtas, objetivas e, se tínhamos um papo para por em dia, esse papo fluía depois do treino. A primeira vez que eu entrei num lugar desses eu tinha apenas dezesseis anos e mesmo com a pouca prática de vida aprendi rapidamente que concentração era a "alma do negócio". Meu professor (e também dono) era um sujeito muito divertido, focado e inspirador (acabou se tornando um mestre para mim). Ele ensinava os exercícios, dava dicas, instruía e pronto. Você estava pronto para fazer tudo sozinho e, se precisasse, ele estava por perto para tirar alguma dúvida. Nada de conversas longas durante os exercícios. Lembro-me também que os horários de treino para homens e mulheres eram diferentes e um não podia frequentar o horário do outro. Ele dizia: "quer ver mulher ou falar com uma?, faça isso quando sair à noite! Aqui não é lugar pra isso!"

Deixando o passado para trás e retomando os dias de hoje o que vemos é uma verdadeira algazarra. Academia virou lugar de "malhação", onde você vai para ficar forte e saudável (dizem), conversar com os chegados, ver gatinhas, som de discoteca no último volume e assistir televisão. Sim, eu disse TELEVISÃO, vou falar de todos os outros, mas quero me focar nesse assunto primeiro. Onde diabos tiraram a trágica ideia que eu quero ver a merda de um programa de televisão na academia??????? (indignação). Aqui do lado de casa tem uma grande academia cercada de vidros e espelhos, uma verdadeira vitrine de idiotas. Todos andando em esteiras assistindo programas televisivos e com fones de ouvido com música no talo (ou seja, vendo uma coisa e escutando outra). Eu olho para essas pessoas parecendo máquinas programadas para andar, todas com suas cabeças voltadas para o mesmo lugar, desatentas dos seus objetivos, e penso: "Que porra é essa?" Elas estão mais preocupadas se estão olhando para elas lá do lado de fora (porque fazem questão de olhar para rua de tempos em tempos) do que com seus esforços. Onde esse mundo vai parar?, me pergunto. Somos propaganda de nossos consumos. É uma praga que se espalha sem limites. Não sou contra ambos os sexos se exercitarem juntos também, mas boate é boate e academia deveria ser academia. Conceitos distintos que se integram hoje em dia.

Aí vem a questão do vestuário... (mais indignação) o pessoal acha bacana mostrar que está indo para a danceteria (ops), quero dizer, academia. Os garotões passam pela rua vestidos à caráter, camiseta regata, bermudão, toalhinha no pescoço, garrafinha de água debaixo do braço e as exuberantes LUVINHAS! (puto) Deuses, onde isso vai parar?! Onde diabos esse povo tirou que para puxar ferro você precisa de luvinhas???? Uns vão dizer: "para evitar de dar calos ou para não deixar o peso escorregar!", tudo bem, entendo essa colocação, mas isso é muito gay da parte de vocês. Imaginem a seguinte irreal situação hipotética:


          Afrânio sai de casa para a academia, cheio de adrenalina, termogênicos, suplementos e sua tradicional roupinha de treino (isso inclui suas luvinhas do poder). Afrânio desfila pelas ruas (pensando no quanto ele é foda) vestido para o combate. Afrânio é um sujeito forte pra burro e puxa muito peso e, nesse dia, supera suas expectativas levantando mais peso do que de costume. Ele faz suas trezentas barras e se sente um monstro de forte! 
          Num determinado dia qualquer de sua vida, Afrânio se vê em perigo porque está pendurado na beira de um precipício segurando com ambas as mãos o seu peso na borda de um penhasco. Ele busca desesperadamente apoio para os pés, mas não encontra nem uma frestinha. Mas ele pondera um pouco sobre a situação e lembra-se que levanta cem vezes o seu peso na academia. Agora, mais calmo e tranquilo, Afrânio faz força para cima para puxar seus cem quilos de pura massa muscular. Ok! Afrânio se safou dessa, mas sua mão desprovida de calos arde bastante. O problema para Afrânio é que ele se vê na metade de uma série de escaladas arriscadas e só pode contar com seus incríveis músculos, mas existe um problema, ele não está equipado com sua luvinha do poder, o que representa um mortífero desafio. E aí, você acha que mesmo cheio de músculos Afrânio se safará desta?


Sim, eu exagerei, coloquei o pobre do Afrânio numa fria, mas foi só para dizer que se você acha legal e necessário usar suas luvinhas, leve-as com você, mas as coloque na academia e lembre-se que se um dia você estiver pendurado, dependendo de seus músculos para se safar, seus calos irão fazer uma tremenda falta. Fico imaginando eu, como músico, se tivesse que usar uma luvinha para proteger a ponta dos meus dedinhos para não ter calinhos... AH, faça-me o favor!!!

Agora vamos falar da moda feminina, as belas e maravilhosas dondocas de academia. Ok, você do sexo frágil que já se indignou primeiro se pergunte se você faz parte dessa moda. Mulheres, vocês que vão para a academia felizes com seus corpos esculturais, desesperadas para ganharem assovios no meio da rua, lembrem-se que vocês podem estar aparentando também umas barangas (pra não dar um nome pior e mais pejorativo)! Calça colada fusô? Com estampa de oncinha? De zebrinha? Ah, para! Que merda é essa? Lembrando que elas também usam os mesmos utensílios masculinos: regata (se não, top), às vezes shorts (minúsculos ou por cima das calças coladas), a garrafinha e a famosa luvinha do poder. Agora eu me pergunto como é que elas se sentem vestidas para acasalar (ops), quero dizer, vestidas para malhar? A ideia de confortável não está associada a ideia de extravagante. Aí alguém diz: "o que é bonito é para ser mostrado!" Af! Poxa, mulherada, bonito não quer dizer ridículo. Sério que vocês acham lindo se vestirem de periguetes para fazer exercícios??? Sério??? Sério mesmo??? O mundo está se perdendo em futilidades...


Uma última consideração, tudo isso que expressei acima é apenas a minha opinião, não tive a intenção de produzir uma verdade, mas se você não gostou vá malhar, ou se for mais inteligente, vá se exercitar!

sexta-feira, 20 de março de 2015

Meio

Meia chuva,
nada inteira,
meia água,
passageira

Meio pingo,
céu inteiro,
meio verde,
arvoredo

Meio dia,
prato cheio,
meia fome,
corriqueiro

Meia culpa,
sua inteira,
meio triste,
traiçoeira

Meia graça,
terra inteira,
meia vida,
forasteira

Meia noite,
o dia inteiro,
meio verso,
foi ligeiro.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Entrevista (Parte I) (revisão)

Eis aqui um texto divertido, uma espécie de conto, uma viagem psicodélica talvez:
 
- Então, como está sua vida neste momento?
- Bom... eu resumiria com a palavra “caos”.
- Mas está assim...ãããã, tão frustrante?
- Boa palavra, melhor até do que a que eu usei. É isso que está acontecendo. Não há um só ser na Terra que não me deixe frustrado... não existe uma só situação que eu consiga ter controle. É triste, eu sei, mas é assim que me sinto... (pausa reflexiva) Mentira, eu também sinto uma enorme raiva dentro de mim...
(Pausa)
- Mas percebe que na maioria das vezes você pode estar criando esta situação para si?
(Entrevistado olhando pra cima em pensamentos longínquos)
- Ah! Pode ser... mas isto não exclui o fato de que tudo sempre está me sabotando as alegrias, que todos furam comigo ou me arrancam as expectativas. Os amigos gostam da gente quando temos algo a oferecer, sei lá. Os meus não andam lá muito satisfeitos comigo...ou não. E olha que eu nem fico desabafando muito...na verdade eu nem digo mais nada. É! É isso... sempre estou na minha... gosto de ouvir os outros falando, de ajudá-los com as coisas que eles encaram como problemas.
- E você? Não tem problemas? 
(Risada desdenhosa)
- Claro que não!
- Como assim?
- Como eu disse, não tenho.
- E o que você chama toda esta frustração?
(Entrevistado inclinando-se pra frente, olhando para os lados e preparando pra contar um segredo)
- Sabe o que é (sussurrando)... as coisas já são tão pesadas no meu dia a dia que se eu der um nome pra elas, vão acabar se tornando piores...
- Hum... sei... e você acha que tais coisas não devam ser resolvidas?
- Eu faço assim... (sussurrando ainda mais baixo) sabe quando a gente tem um sonho ruim e acorda com medo e assustado? Pois é, eu concentro bastante em me lembrar de que aquilo era só um sonho, daí eu fecho meus olhos e volto a dormir... pronto... afinal, nada disso nunca foi real mesmo.
(Os dois se ajeitam em seus lugares)
- Como assim? Quer dizer que você não tem problemas com nada, mesmo com as coisas que te irritam? Isso é só um... como você disse mesmo... um sonho ruim. Nada existe pra você?
- É, isso aí.
(Deboche descarado do entrevistador)
- Rá, então você afirma que nada do que vive é um problema, mesmo me dizendo que está cheio deles?
- Veja bem; não disse que estava cheio de nada, disse que nada existe, nem problemas e nem nada, só isso que...(interrompido bruscamente pelo entrevistador)
- Não concordo com o que... (interrupção por parte do entrevistado)
- Chega! Nada existe e pronto. Nem mesmo você, agora vê se sai da minha cabeça!
(Entrevistador evapora-se)... 


Publicado originalmente no dia 14 de abril de 2010, Quarta-feira.


Pode parecer loucura, mas eu costumava dizer que os problemas não existiam e tudo era coisa da nossa imaginação, que interpretava qualquer situação adversa em tragédia moderada (ou expandida). Mas existe um fundo de verdade nessa afirmação. Basta fazer como o grupo inglês de teatro Monty Python enfatizou no filme A vida de Brian:  

"Olhe sempre o lado bom da vida!"

quarta-feira, 18 de março de 2015

Esforço para tudo

Nada que fazemos hoje em dia requer muito esforço, certo? Não creio. Você pode até estar acostumado a certas tarefas, mas no fundo, bem lá no fundo, todas elas necessitam de um mínimo de esforço. Se eu posso executar alguma tarefa isso já me anima bastante, mas se eu puder fazer mais do que eu consigo isso me enaltece. E tenho o costume de não parar por aí, gosto de sempre conseguir ir além. E esse negócio de "ir além" é barra pesada, pois ultrapassar os limites requer muita dedicação e compromisso. Estou assim: compromissado em ultrapassar limites, superar dificuldades, alcançar objetivos e bater metas. Estipulei-me árduas missões e estou me esforçando ao máximo para atingi-las, mas isso demanda muito tempo e cada vez mais trabalho. A vida é assim, um complexo e constante esforço contra a retidão. Pois é isso que nos torna capazes de vencer e sempre evoluir, não podemos ficar parados esperando acontecer. Confesso que ainda sou um pouco desorganizado, mas de longe deixo de ser dedicado. Tenho aumentado meus períodos de sacrifício, sim, sacrifício, é como eu costumo chamar essa empreitada, mas não num sentido pejorativo, eu gosto do que eu faço. Dedico grande parte do meu dia em ser melhor naquilo que já me considero razoável. Quando estou perto de parar digo a mim mesmo que posso fazer um pouco mais e isso funciona bastante. Entretanto, muitas vezes me vejo desanimado, desmotivado e isso fica pior quando vejo o quanto outras pessoas são melhores do que eu naquilo que me dispus a fazer. Nessa hora eu reflito e converso comigo: "não lamente e não desista, apenas dedique-se mais sempre." Tento me inspirar nas pessoas que já detêm o que eu quero alcançar. Ser melhor é uma prioridade e buscar forças para não desistir ou esmorecer é um grande passo. Venho lamentando menos e me impelindo mais ao trabalho. Se eu não fizer por mim, quem o fará?

terça-feira, 17 de março de 2015

Star Wars - Herdeiro do Império - Timothy Zahn - Editora Aleph

A mesma edição que eu possuo e que vem com um marcador em forma de sabre de luz! (foto: site da Amazon)

Eu amo livros, disso não há dúvidas, mas Ficção Científica e Fantasia são meus gêneros favoritos. E eis aqui um livro que integra perfeitamente esses dois gêneros:

O quê dizer sobre o universo de Star Wars? Sou suspeito de falar de algo tão querido e amado. Encontrei esse livro por acaso numa de minhas visitas semanais a livraria e, sem pestanejar, o escolhi dentre muitos. Só pela capa já tinha me decidido a levá-lo, mas ao ler suas orelhas fiquei ainda mais embevecido, pois se tratava da continuação da história da trilogia original do cinema. Sequer sabia eu da existência desse título. Fui pesquisar sobre a obra antes mesmo de lê-la para saber mais a respeito e descobri que o livro já estava escrito desde 1991 e que por aqui fora traduzido pela primeira vez pela Editora BestSeller logo em 1993 (edições fora de catálogo). O quê? Como assim eu não sabia disso? Mas isso agora é irrelevante, pois a Editora Aleph irá relançar toda a Trilogia Thrawn (Herdeiro do Império, primeiro volume da trilogia, foi lançado em 2014). 

Eu já tinha conhecimento do UE (Universo Expandido) de Star Wars, mas não fazia a menor ideia de que o que eu tinha em mãos era a continuação do filme O Retorno de Jedi autorizada pela própria Lucasfilm (produtora de George Lucas) e pela Bantam (editora estadunidense) - como explicou o próprio autor na introdução à edição brasileira.  


Minhas considerações sobre o livro:

Timothy Zahn detona numa história magnificamente bem elaborada e cheia de detalhes. Os elementos literários não são carregados, a única coisa que toma um pouquinho de tempo é decorar os estranhos (é um elogio e não uma crítica) nomes próprios (pronunciá-los é muito mais difícil do que lê-los), mas que você acaba se acostumando lá pelo meio do livro. Afora os muitos nomes de planetas, personagens, galáxias e termos técnicos fictícios a história é bem fluida e muito divertida.

Eu disse no início deste texto que aqui nós temos dois gêneros, a ficção e a fantasia, e você pode observar esses dois elementos por todo o enredo. Mais uma vez a jornada do herói (ver Joseph Campbell) está presente e muito bem empregada como nas histórias anteriores. Eu gostei bastante de ler essa continuação e admirei a construção da trama que se fecha em todos os pontos (lembrando que este é o primeiro volume de três, então tem muita coisa ainda para acontecer). O antagonista é um gênio militar, especialista em estratégias criativas que coloca os protagonistas em situações dramáticas. Luke, Leia, Han, são caçados e colocados à prova e a ação neste livro são como cenas num cinema (foi o que passou por meus pensamentos o tempo todo, como imagens numa telona). Não dá para parar de ler, porque você precisa saber se tudo vai dar certo ou se tudo só vai piorar (o que acontece com uma certa frequência e faz com que a história fique cada vez mais empolgante). Os personagens mais amados desta saga estão aqui: Luke Skywalker, Leia Organa Solo, Han Solo, Chewbacca, R2D2, C3PO (entre outros). Os novos personagens completam e preenchem muito bem a narrativa, como se estes já fizessem parte deste universo desde o sempre. O livro não é cansativo em nenhum capítulo, pelo contrário, as páginas se acabam depressa demais. Resumindo: é como ler um filme, eu diria.

Enredo:

Cinco anos após a destruição da segunda Estrela da Morte: 

Luke faz uma busca solitária para aprender mais sobre a Força, já que as visitas espirituais de Obi-Wan estão cada vez mais esporádicas. Leia e Han Solo estão casados, ela está gravida de gêmeos e com pouco tempo para se dedicar ao estudo da Força com seu irmão. O casal tenta por meios políticos instaurar o novo governo, mas encontram dificuldades por toda galáxia. O Império não foi derrotado como se acreditava, o grão-almirante Thrawn - alienígena humanoide de pele azulada e olhos vermelhos - está agora no comando, ele é um estrategista de primeira qualidade e quer acabar com as investidas da antiga Aliança Rebelde em formar a Nova República e restituir o poder para o Império. Seus planos contam com variáveis favoráveis como: os ysalamiris - criaturas que obstruem o uso da Força - e aliados poderosos, entre outros segredos. 


Termino meu texto com o maravilhoso pensamento de Luke Skywalker acerca da tristeza de ter perdido seu mestre:  

"Lamentar a perda de um amigo e professor era adequado e honorável, mas chafurdar desnecessariamente na perda era dar ao passado poder demais sobre o presente."



Timothy Zahn autografando os livros da edição brasileira da editora Aleph

Fonte de pesquisa:

http://pt.starwars.wikia.com/wiki/P%C3%A1gina_principal

segunda-feira, 16 de março de 2015

Estudar ou criar? (revisão)

Texto antigo, mas com uma boa questão. A inteligência não está apenas em aprender sempre mais, mas sim em conquistar algo com isso:



Sei que aprender é muito importante (ao menos para os que pensam) e sempre defendi esta bandeira, mas gostaria de entender algo: o aprendizado é para o acumulo de conhecimento ou é a base que necessitamos para a criação? Sempre digo aos meus alunos que mais importante do que tocar os solos dos nossos guitarristas amados é fazer os nossos próprios solos. A maioria das pessoas que conheço não medem esforços para aprenderem cada vez mais e isso é digno e muito justo... mas e aplicar estes conhecimentos? Saber fazer, produzir algo decente e de boa qualidade não é pra qualquer um, mas é para dar a cara a tapa e tentar até conseguir e não desistir. Tenho bons amigos e alguns deles são crânios que se matam de estudar e querem por que querem saber tudo. Mas e daí? Onde realmente isto leva? Não estou dizendo que não é necessário, pelo contrário, eu gosto e muito de aprender, mas, daí não arredar o pé do estudo, sempre buscando mais e mais conhecimento sem nunca fazer algo original ou inovador... aí não! O negócio pra mim funciona com aplicabilidade. Se eu não estiver produzindo algo então não me vale nada saber e aprender. Obrigado.


 Publicado originalmente em 24 de novembro de 2009, Terça-feira.


Concordo comigo, a extensão suprema do conhecimento é a invenção. Para isso é necessário criação, novidade, sair da zona de conforto, expressar ideias e praticar, e praticar, e praticar... Aprendi a escrever na marra (e ainda estou aprendendo), lendo regras gramaticais, prestando atenção em frases e sentenças de tudo o que eu leio, pesquisando, mas, sobretudo, escrevendo, errando muito, mas nunca deixando de escrever. O mesmo vale para minha outra habilidade: tocar. Notas mascadas, notas perdidas, desafinadas, mas notas, muuuuuitas notas. E como eu pretendo sempre ir além dos meus limites fiz um acordo comigo mesmo há mais ou menos um ano: Eu toco e escrevo todos os dias impreterivelmente. E você, só estuda ou age também?

sábado, 14 de março de 2015

O algoz mor

O passado se fundiu ao presente e, quando menos esperava, já me encontrava no futuro. Essa sensação não me é estranha. É para você? Foi assim que me dei conta da existência dele. Desta suprema força, maior até do que a própria morte, sim, estou falando do tempo. Aquele que nos falta, aquele que nos toma, aquele que nos engana. A força mais cruel e mais constante do universo. Impossível escapar de algo tão poderoso, mas ainda não desisti, hei de encontrar uma falha na sua perseverança e assim o superarei em habilidade. Não posso me alongar em palavras, pois ele está em meu encalço e meu maior truque é fazer com que ele pense que eu não existo, mas para enganá-lo tenho que realmente não mais existir. E assim começo minha inexistência, já, não daqui a um segundo, neste instante, eis aqui sua maior fraqueza: o agora, pois o agora é desprovido de tempo, um nano infinitésimo de segundo, apenas isso. Um momento rápido demais para refletir, para contemplar. Preciso ir, aqui não é mais seguro. Retornarei para falar sobre o tempo quando houver tempo, isso se eu resistir à minha não existência. Adeus.

sexta-feira, 13 de março de 2015

Sacrificatórios dias de um escritor (revisão)

Achei esse texto (meio confuso) entre os meus escritos, mas lembro que foi uma espécie de revolta, (na verdade era um incômodo) porque eu queria terminar um antigo projeto: meu livro - uma ideia crescente que me assolava (e me assola até agora) desde os meus dezessete anos. Mas antes de falar sobre isso, leiam o texto:


Sabe, nem mesmo ainda sou um escritor, mas almejo ser e escrever indeterminadamente. É como criar um filho... ele vem apenas de uma ideia, que vai surgindo e vai querendo aparecer e, quando você menos espera, ele nasce! Até aí tudo certo. O problema começa quando a gente percebe que ele veio sem uma orelha, sem uma perna ou um braço e isso é pouco comparado ao crescimento do garoto. Você até dá carinho pra ele, mas esquece de alimentá-lo de vez em quando e aí já viu, né? O bostinha não cresce de jeito nenhum e ainda corre o risco de padecer.

Bom, analogias à parte, o que eu quero dizer é: É muito difícil dar continuidade aos meus projetos ou, por que não dizer, nossos projetos, afinal, eu não devo ser o único neste mundo com este tipo de problema... ou sou? O que me importa é cuidar para não perder as esperanças e isso sim é uma tarefa de mestre. Quantas vezes desisti, me desanimei, cansei, parei ou até mesmo destruí uma criação? Pois é, e assim vou empurrando e levando e tentando conseguir o meu espaço.

Hoje tomei uma decisão drástica, mesmo tendo lido comentários contra este tipo de atitude, achei por melhor postar minhas criações neste blog e, assim sendo, talvez, mas só talvez eu possa me sentir motivado a ser um melhor escritor, ou seja: menos preguiçoso.


Publicado originalmente em 24 de novembro de 2009, Terça-feira. 


Eu me referia na época não só ao meu livro, mas também aos contos e versos que produzia com muita frequência. Quando comecei aquele primeiro blog eu tinha uma vaga e distorcida ideia de que se eu postasse alguma coisa escrita originalmente por mim ela poderia ser roubada. E depois daquela indecisão toda eu tomei coragem e passei a publicar virtualmente tudo o que eu escrevia, inclusive o início do meu livro. Com o passar do tempo eu fui amadurecendo meus pensamentos e logo parei de postar meu romance/ficção/fantasia, mas continuei desenfreadamente com meus textos mais simples. E ainda bem que fiz isso. Hoje em dia ainda invisto muito tempo na construção do meu mais ousado projeto, mas tomando muito cuidado em elaborar, pesquisar e desenvolver mais a história. Espero terminar a primeira fase (o primeiro volume da saga) ainda no início do próximo ano, por isso necessito caprichar muito para que eu não me arrependa mais tarde. Não acredito que nada feito às pressas saia bem feito, mas mesmo assim devo ouvir meu antigo conselho, ser menos preguiçoso e mais dedicado.

A infinitude do infinito (revisão)

 Eis aqui mais um dos meus antigos textos onde eu discorri por um pensamento profundo que me acomete desde o principio do meu questionar:


 Minha crença de que o universo é infinito, começou quando eu ainda era uma criança, pois isso me foi ensinado na escola. Era este o entendimento dos cientistas a respeito do cosmos. Depois de um bom tempo, com os estudos da expansão do espaço, começaram a dizer que ele era sim, finito. Muitas outras ideias foram se aglomerando e são tantas as ideias, que, como sempre, fui induzido a criar a minha própria concepção de universo. Se tivesse como explicar o que entendo exatamente pelo mundo, eu o compreenderia plenamente e não estaria formulando hipóteses e sim afirmando algo. O que eu gostaria de passar não é algo original, tão pouco o queria que fosse, pois minha percepção me diz que tudo a minha volta é um universo, do macro ao micro, do alpha ao ômega. Em tudo pode estar contido um universo, assim como o universo contém absolutamente tudo. Por que deixar de pensar que em um único átomo não encontrarei zilhões de aglomerados de galáxias? Porque não seria possível? Se nos fosse viável ver além do átomo, o que veríamos? Nada? Não há nada dentro de um átomo? E se há, o que existe dentro do que está dentro dele? Não nos prendamos apenas ao micro. E fora do nosso sistema solar, fora da nossa galáxia, fora do aglomerado em que estamos, do conjunto de aglomerados de galáxias? Terá um fim? Não creio. Não posso conceber o fim de algo tão grandioso, seria como ver os limites de Deus. Ver o Seu contorno. Enxergar Sua forma...não...não penso assim. Pensar em algo delimitador, me faz crer que infinito não é a palavra adequada. Infinito pra mim é assim...


Publicado originalmente em 7 de agosto de 2009, Sexta-feira. 


 Minhas ideias acerca do universo não pararam por aí. Até hoje faço grandes reflexões sobre o mundo e o que ainda não sabemos. Não consigo fixar minha mente em apenas uns poucos fatos. Se eu fosse definir o universo hoje eu diria: "O universo é tão grande ou maior até que todos os meus pensamentos!"

quinta-feira, 12 de março de 2015

Um livro por semana

Proposta indecorosa! Não é para tanto, é mais um incentivo, uma promoção à minha leitura que, às vezes, fica estagnada. Nada como um compromisso para ajudar nesse esforço de manter uma leitura constante. E é também uma oportunidade de alcançar marcas sempre maiores de leituras por ano. Se não me engano, meu recorde foi um pouco mais do que vinte livros só num único ano (perdi meu caderno com essa informação). O que é um dado irrisório se eu levar em conta alguns amigos que chegaram a ler mais de cinquenta. Bom, esse é o meu objetivo daqui para frente, ler ao menos um livro por semana (de preferência mais do que um), mas um já é mais do que suficiente. E tem mais um compromisso que estou assumindo agora, mais um estímulo à leitura: eu vou fazer uma breve resenha de cada um deles aqui no blog, que pretendo postar toda segunda-feira. Isso, além de me incitar a ler mais, irá me ajudar a quantificá-los e também qualificá-los. Mas avisando de antemão, eu não pretendo fazer uma análise literária do volume em questão, vou falar sobre o que me chamou a atenção (ou não) no livro e algumas características particulares. Farei um resumo, uma pincelada no enredo sem, contudo, revelar o fim da história. Será um acordo comigo mesmo, não porque tenho a obrigação de fazê-lo, mas sim porque o quero fazer. Pretendo também contar um pouco sobre minha escolha, fatos relacionados aos dias de leituras e coisas à parte.

Deixem-me contar um caso interessante da minha formação como leitor:

Desde criança, eu via meu pai lendo e trazendo livros para casa. Como nosso apartamento era pequeno a biblioteca ficava no meu quarto - era uma grande estante de madeira escura, do chão até o teto, abarrotada de livros. Ele os comprava aos montes em promoções em sebos de diversas cidades e estados (ele viajava muito à trabalho e passava dias e também semanas fora de casa). Os volumes só não ocupavam a casa toda, porque ele tinha o bom costume de presentear todos os conhecidos e interessados com seus próprios livros (não aprendi a ser desapegado como ele, mas acho que ele só se desfazia dos que não gostava). Recordo-me do meu falecido pai, que passava horas e mais horas, madrugada adentro lendo desenfreadamente. Ele não tinha com quem compartilhar suas vitórias, (não havia internet em seus áureos tempos) então restava a ele estufar o peito e contar com orgulho para mim: "Tá vendo esse livro aqui, Pedro Henrique? Li ele todinho essa noite!" - dizia sorrindo e maravilhado (saudade). E esse era apenas um de seus feitos, pois ele tinha muito mais capacidades do que isso: "Pedro Henrique, olha só os livros que eu trouxe da viagem" - ele mostrava uns seis ou sete volumes - "sim, pai, estou vendo." - respondia eu desinteressado sobre todos aqueles livros que, para aquela minha tenra idade, não representavam muita coisa - "sabe quantos eu já li nesse final de semana?!" - perguntava ele redundantemente, pois contaria mesmo que eu não perguntasse, mas eu ajudava: "quantos, pai?" - e eu ainda lembro de seus olhos vibrando para revelar a incrível façanha: "Todos!!!" - e gargalhava desenfreadamente com alguns cutucões e grunhidos: "hein, hã, hein, hã!". Meu pai foi um grande modelo. Eu tinha todos aqueles livros à mão, mas garoto que era, só me interessava por revistas em quadrinho (que me eram dadas por ele no esforço não só de me agradar, mas de encorajar-me a ler sempre mais). Não reclamo disso, pois se não fossem aquelas revistas, eu nem ao menos teria um gosto por leitura. E foi assim até eu tomar um verdadeiro gosto por livros (são inegavelmente melhores do que qualquer revista em quadrinho).

É, acho que tomar essa medida de um livro por semana é também um mínimo esforço da minha parte para honrar a memória de meu pai. Então, vamos à leitura!